Uau, a preguiça de escrever passou rápido demais...he he he. É que eu li um artigo de uma determinada figura que me motivou a deixar a frescura de lado e voltar a escrever.
No texto, o ilustre cidadão se propõe a analisar a crítica musical de hoje em dia. Antes de falar propriamente dele, digo que é curioso notar um interessante fenômeno na grande imprensa do país. Pessoas que já ocuparam funções e/ou cargos importantes hoje viraram um importante referencial de opinião. Em duas áreas do jornalismo, pode-se perceber isso com mais clareza. Na economia, é comum ler opiniões de Delfim Netto e Máílson da Nóbrega a respeito da atual política econômica do governo. Em geral, os dois fazem duras críticas ao modo como se está conduzindo as coisas. No esporte, esse fenômeno se repete. A Rádio Jovem Pan, de São Paulo, reuniu os cinco últimos treinadores que já comandaram nossa seleção para fazer comentários. A saber, Parreira, Zagallo, Luxemburgo, Candinho e Leão. A pauta principal, é lógico, é o desempenho da seleção brasileira nessa Copa do Mundo. E as análises não são das mais positivas. Creio que para nossos ex-técnicos e ex-ministros seja interessante deixar de ser vidraça e passar a ser pedra. Alguns até devem ganhar um bom $$$ para isso. Por outro lado, quem pára e ouve o que eles têm a dizer deve se fazer a seguinte pergunta: "Por que eles não fizeram aquilo que hoje apregoam quando estavam lá?"
É a sensação que dá ao ler o artigo citado por mim no início desse post. É fácil escrever hoje que a critica musical brasileira recicla modelos vindos de fora, mas qual foi a contribuição do responsável por dizer isso para mudar esse estado de coisas? Não há resposta. O herói, autor da coluna em questão, trabalhou em importantes veículos: Bizz, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, sempre exercendo esse ofíciol. Ou seja, teve três belas tribunas para fazer algo de diferente ou de surpreendente.
Depois, nosso amigo vem um papo de geração que não aprendeu com a anterior, etc...Até aí tudo bem, mas esse é um problema crônico da nossa grande imprensa, não sendo privilégio da área analisada por ele, mas não creio que isso resolveria alguma coisa. Talvez os mesmos erros cometidos pelas gerações anteriores se perpetuasse por mais alguns anos. Se na decada de 70 não houvesse uma ruptura, talvez o punk não existisse e hoje estariamos ouvindo apenas rock progressivo (nada contra o progressivo propriamente dito; é apenas um palpite).
Algumas linhas adiante, nosso escriba de plantão diz que a crítica musical faz propaganda de seus artistas preferidos e que ignora os massificados, como Kelly Key, etc. Taí uma boa provocação. O defeito todo não está na crítica, mas no público. Determinadas tribos não aceitam certas coisas. Os Indies nunca aceitariam que uma publicação trouxesse algo com a Kelly Key, mesmo se fosse a melhor reportagem do mundo, com o melhor texto, as melhores fotos. E vice-versa, quem gosta da intérprete de Baba Baby não vai se interessar por coisas que são impostas por gostos de críticos. Se fosse assim, o Fellini, uma banda que sempre teve a simpatia da crítica na década de 80, não venderia apenas 3 mil cópias de cada um de seus lançamentos. Talvez a Veja, que é uma publicação de generalidades, pudesse fazer a tal reportagem que o articulista pede.
Vou contar aqui um caso que pode ajudar a enxergar melhor essa divisão entre o mundo indie e os outros. Eu assinava uma lista de discussão na qual a maior parte de seus integrantes era originária do universo indie brasileiro, isso lá pelos idos de 1997. O cantor Nélson Gonçalves lançou um CD com regravações de músicas consagradas do rock nacional. O carro-chefe era "Nada Por Mim", do Kid Abelha. Mandei um mail para a lista dizendo que talvez fosse um dos melhores álbuns daquele ano. A reação foi péssima. Talvez se eu tivesse falado de qualquer banda obscura do Leste Europeu teria sido diferente.
Nosso Barão da Imprensa não deve ter sacado é que a segmentação é uma boa saída, tanto em rádio, como na imprensa. É claro que devem existir emissoras que toquem os sucessos de Sandy e Júnior, assim como revistas que falem deles. Assim como deveriamos contar com rádios que levem ao ar sons alternativos e revistas que tragam esse tipo de informação. A Bizz, exemplo citado no artigo, tentou um caminho interessante, procurando falar com um público mais qualificado, citando Muntantes, entre outros. Se não deu certo, a culpa não foi da aposta de seus editores. A circulação paga da revista era até respeitavel: 30 mil exemplares/mês. O xis da questão é que aqui no Brasil não há espaço para o médio. Há duas escalas de valores no show-biz nacional (que é reverberada pela imprensa especializada nesse mesmo show-biz): o grande e o mega. Pena que ele não percebeu isso.
quarta-feira, junho 19, 2002
Postado por Rodney Brocanelli às 3:31 PM 0 comentários
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