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quinta-feira, julho 11, 2002
Na edição passada, por conta da retrospectiva de 1997, falei por alto sobre o relacionamento da cena indie nacional e a mídia. Disse na ocasião que quando se fala de alguma banda, apenas se dá espaço para quem gravaou CD. As bandas que estão ainda na fase de demo-tapes sequer são citadas.
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Isso acaba sendo uma grande injustiça, pois nem sempre os grupos que chegam ao formato CD são bons. Por outro lado, tem muita gente boa que ainda não despertou o interesse da mídia por ainda estar em estágio de demo-tape.
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A galera dos Sleepwalkers é um bom exemplo disso. "Sick brains in Sue's coffe", lançada em 1996 está entre as melhores coisas já produzidas no ano. A banda baiana Arsene Lupin é outro exemplo de demo legal. Mas, a exceção da coluna "Pub", do jornal "O Povo" (CE), ninguem falou deles. Apenas os zines é que tem a preocupação de dar espaço a quem ainda está no formato demo tape.
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Não sei se estou sendo sonhador demais, mas o critério adotado pela mídia para se falar de algum trabalho dessa cena indie brasileira deveria ser o da qualidade, não o do formato pelo qual esse trabalho é lançado. Por que as páginas de lançamentos musicais dos jornais não falam de fitas demo? O preço é até mais em conta. Por um real ou dois você pode estar levando para casa ótimos trabalhos. Ainda que a fita cassete tenha uma limitação de qualidade, vale por você estar travando contato, por um precinho bem camarada com o novo.
Esse texto meio tosco escrito por mim foi publicado no zine Quex. Desde então, muita coisa mudou. A fita cassete demo, que parecia sobreviver incólume a passagem do tempo, está saindo de circulação e dando espaço ao CD-ROM. Um exemplo dessa transição é o selo mmrecords. Coincidência ou não, a partir dessa transição, o espaço para a cena indie nacional aumentou na grande imprensa. É comum hoje ler resenhas de bandas como Three Butchers Orquestra, Astromato, Pelvs e Stellar. Talvez eles não tivessem conseguido tanto espaço se ainda lançassem seus trabalhos em fitas demo.
Eu tive a oportunidade de perguntar a dois jornalistas sobre o esse desprezo da crítica musical pelas demo tapes. Thais Aragão, então editando a saudosa seção Pub, do jornal O Povo (CE) respondeu assim:
(...)O nome já diz: fita de demonstração. Não é todo mundo que quer ouvir algo que ainda não está completamente trabalhado, finalizado. É até difícil divulgar uma demo explicando que o que a pessoa vai encontrar, tanto de bom quanto de ruim. Pondo-me no lugar de quem quer conhecer o que rola no meio, eu não gostaria de comprar gato por lebre. Além disso, ficaria com uma impressão muito ruim sobre esse 'alternativo' se alguém me dissesse que algo é bom e eu achasse horrível. Perde-se credibilidade. Por questões econômicas e até ideológicas, estas fitas acabam sendo o produto final de muita banda, o que é péssimo. A qualidade não é boa. E se daqui a pouco ninguém nem escuta mais K7? Como vai ficar? Acho que as pessoas se ligam muito na embalagem. Não é o fato de se ter algo gravado numa fita ou ter algo impresso em xerox numa folha de ofício que isso vai se tornar algo culturalmente interessante. Tecnicamente, pode ainda ser alternativo, mas só a qualidade, a ousadia e a personalidade vão determinar se a essência deste produto vai servir para mudar algo, para avançar nas idéias que a indústria cultural de massa muitas vezes ajuda a desacelerar.
Alexandre Matias, hoje editor da revista Play, tinha uma opinião diferente:
Não gosto da diferença entre o alternativo e o mainstream porque desvaloriza o alternativo ou o indie ou o zineiro ou quem quer que seja... Essa é uma diferença estabelecida pelo próprio mainstream, pra dizer ao artista que, após ele assinar com uma major, sua carreira começa de novo. É claro que começa, mas é risível pensar que não existe nada antes daquilo. Como se os Beatles nascesse em Love Me Do... Acho pejorativo o uso da expressão "demo", porque muitas fitas que se vendem como tal não são fitas demo. São fitas de verdade, fitas pra serem vendidas, como discos, discos que não preferiram sair em forma de fita. Um monte de gravadoras se especializaram no formato, desde a Roir até o Midsummer Madness, e nem por isso devem ser tratados como "sub-gravadoras". Tá certo que o trabalho de um artista alcança um novo publico com o primeiro disco, mas isso não quer dizer que as primeiras gravações não valeram... Se a discografia do Concreteness se resumisse ao disco Numberum, que é o primeiro disco "oficial", ninguém entenderia a banda. Nem o Linguachula. Nem o Sonic Youth. Como se Elliot Smith tivesse mudado um milímetro ao sair da Kill Rock Stars pra Dreamworks. É difícil, mas é importante que não se trate um artista de forma diferente pelo fato dele ser independente. Escrever "Independente" em vez de colocar o nome da gravadora que o artista imaginou... Isso é inadmissível, é subjulgar o trabalho
Uma pena que esse debate não teve a chance de ser aprofundado. As fitas demo morreram. Viva as demo tapes.
Postado por Rodney Brocanelli às 3:21 AM 0 comentários