sábado, maio 03, 2008

Vida de frila - 2

Eu intitulei o post abaixo de "Vida de Frila".

No entanto, me dei conta de que a palavra frila, muito conhecida no meio jornalístico, não faz parte do vocabulário do leitor comum.

Vamos, portanto, à uma breve explicação.

Frila é um aportuguesamento (ou abrasileiramento, talvez) da expressão inglesa free-lance.

Existem dois usos correntes, frequentemente utlizados.

Um deles: serve para designar o profissional que presta serviços jornalísticos sem ter um vínculo empregatício.

Exemplo: "Sou frila do Jornal da Esquina".

O outro: serve para nomear o tipo de trabalho que é feito por alguém que não tenha o tal vínculo empregatício.

Exemplo: "Estou fazendo um frila para o Jornal da Esquina".

*

A principal dificuldade de um frila é fazer algum tipo de trabalho fora da cidade onde mora.

Certa vez, precisei ir ao Rio de Janeiro para entrevistar um centenário senhor de idade.

A encomenda foi de uma das mais tradicionais revistas de futebol da Itália.

Não que o personagem em questão fosse um jogador, técnico ou dirigente.

Radicado no Brasil há vários anos, ele se tornou um empresário bem-sucedido do mercado de livros.

Ainda assim, nunca deixou de lado a conexão com o futebol de seu país de origem.

Perto de completar 100 anos, ele escreveu uma carta à revista. Os editores gostaram e decidiram que alguém fosse entrevista-lo.

Por intermédio de um amigo, essa missão coube a mim.

Consegui contatos, endereço, liguei, falei com familares e marquei a conversa para um domingo.

Eu iria até a casa dele, que fica em Copacabana.

Foi a parte mais fácil. Mesmo que a entrevista rolasse apenas no domingo à tarde, decidi passar o final de semana inteiro na Cidade Maravilhosa.

O próximo passo era arrumar um lugar para ficar.

Naquela época, eu participava de uma lista de discussão por e-mail em que os cariocas eram maioria.

Mandei uma mensagem perguntando se alguém poderia me descolar um lugar para ficar.

Recebi uns três ou quatro mails de resposta, de gente se oferencendo para me dar lugar.

Um deles, me chamou a atenção. Diza mais ou menos assim: "olha, eu moro em Botafogo, mas vamos dar um jeito de te encaminhar para Copacabana".

Paralelamente a isso, tentei arrumar estadia de outro modo. E consegui. Eu ia ficar por Copa mesmo, bem perto de onde meu entrevistado morava.

Já iria economizar um belo troco com deslocamento.

Avisei a todos que me responderam. Agradeci a corteisa. Poucos dias depois, embarquei para o Rio.

No domingo, depois do almoço, vou até ao apartamento do centenário senhor.

A entrevista rolou, tirei algumas fotos e fui embora assim que percebi ter material suficiente para editar a entrevista.

Na saída, resolvo parar num telefone público a fim de ligar para os camaradas que mantiveram contato.

Não consigo falar com dois deles, mas falo com o terceiro.

Conversamos um pouco e ele pergunta como está minha estadia. Digo a ele que tudo correu bem, que não tive nenhum problema. Ele responde dizendo apenas para não vacilar no lugar onde eu estava.

Nos despedimos. Volto a São Paulo, revelo as fotos, tiro a entrevista do gravador, edito e entrego. A vida segue.

Nunca imaginaria que a vida desse camarada com quem eu falei mudaria vertigionasmente no prazo de um ano.

Ele é Marcelo Camelo. Naquela época, já fazia parte da banda Los Hermanos, mas eles ainda nem tinham assinado com gravadora. Ainda estavam na fase da fita demo.

E, se eu não estiver enganado, ele cursava jornalismo na Puc-RJ.

Acho que Camelo não deve se lembrar dessa história.

 
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