domingo, maio 18, 2003

Domingão, muito sol lá fora, nada pra fazer aqui em casa, resolvo brincar no Google. Não tem coisa melhor: digitar palavras, nomes de pessoas e ver os resultados. Nisso, encontrei um blog muito bacana que aborda futebol e jornalsimo.

O fanzine Quex chegou ao seu primeiro ano de vida. Parabéns. Mas depois da festa, creio que seja o momento para uma reflexão.
A imprensa brasileira, com algumas exceções, tem tido um comportamento exemplar na cobertura dos batidores do poder. Graças a ela, ficamos sabendo de todas as intrigas palacianas e falcatruas. Alguns articulistas exercem uma postura crítica e saúdavel frente ao poder. O jornalismo esportivo, por sua vez, de alguns anos para cá, tem procurado seguir a trilha do jornalismo de investigação. Algumas vozes tem se levantado contra o amadorismo dos dirigentes de futebol, bem como denunciado irregularidades.
No entanto, tenho sentido falta desse tipo de postura no jornalismo cultural ou de entretenimento. Na maioria dos casos, os veículos que cobrem a área cultural se limitam apenas a crítica de obras, a entrevista, perfis, e, eventualmente, reportagens. Faltam pessoas na imprensa que informem leitores os meandros do funcionamento da chamada indústria do entretenimento, como Janio de Freitas e Juca Kfouri fazem nas areás da política e do esporte, respectivamente. Diga-se passagem que os dois jornalistas citados são os que eu mais admiro.
A área cultural é um bom campo para o jornalismo investigativo. O problema é que não temos ninguem que se dedique a explicar para o leitor certas coisas. No campo musical, há muito o que se esclarecer. Por exemplo: quem decide o que o público consumidor de cultura vai ouvir nas emissoras de rádio? Por que certas bandas ou artistas fezem sucesso ou não? Madonna, por exemplo, é um fenômeno popular, ou popularizado, como disse certa vez o cineasta Jean Luc Goddard? Existe o tão falado jabá?
As interrogações não param por aí. É ético você colocar na capa de uma revista de música, um determinado artista e, além da reportagem com ele, publicar um anúncio pago da gravadora promovendo o CD desse mesmo artista?
(...)
Há muita coisa a se responder. Esse silêncio da imprensa sobre esses assuntos faz com que diversas conclusões sejam tiradas. Será que a nossa imprensa cultural tem rabo preso? Se um dia, um veículo publicar uma reportagem-denúncia sobre o jabá de uma determinada gravadora, não haverá represália por parte dos atingidos? Um exemplo: boicote na marcação de entrevistas com artistas (sim, pois quase todas as entrevistas que você lê, são marcadas com a assessoria de imprensa das gravadoras).
Acho que todos os que mexem com comunicação deveriam pensar nessas questões antes de dormir. Se alguem não tiver dificuldade para pegar no sono, é porque algo vai mal.


Esse texto de minha autoria foi publicado em 1997, no extinto zine Quex, do meu amigo Eric Marke. Sobre o assunto abordado, creio que houve alguns avanços de lá para cá. Alguns temas não são mais tabus, como o jabá, por exemplo, que vem sendo tema de constrantes discussões. E alguns jornais tem se dedicado a cobrir mais e melhor os bastidores de certos setores da indústria do entretenimeno. A Folha de S. Paulo traz ao seus leitores colunas sobre o mercado fonográfico e o literário. Já é um começo. Quem sabe, novos avanços virão.

 
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