sexta-feira, maio 09, 2003

A situação atual da TV Cultura não chega a surpreender. Ela já estava se desenhando em 1995, quando o então governador Mário Covas fez os primeiros cortes orçamentários. Desde então, a coisa só vem degringolando e não mudou nada com manutenção de Geraldo Alckmin no cargo de governador. Não tenho elementos para discutir se os cortes são corretos ou não do ponto de vista admninstrativo, mas não dá para esquecer que os trabalhadores da emissora são tão trabalhadores como qualquer um de nós e estes não merecem pagar o pato. Outra coisa a se lamentar é que na situação de penúria, fitas preciosas do acervo estão sendo sacrificadas. O blog Circo do Absurdo informa que a primeira apresentação da cantora Marisa Monte no programa Metrópolis, em 1988, foi apagada. Goste-se ou não dela, não deixa de ser um documento importante, pois é uma de suas primeiras aparições na tv, quando estava começando a carreira. O rico acervo da Cultura poderia ser melhor aproveitado como fonte de renda. Posso tomar como exemplo o MPB Especial gravado na década de 70 com Elis Regina e recentemente reprisado. Por que não transforma-lo em CD e DVD, depois, é claro, de um acordo com alguma de suas gravadoras e seus familares? Mataria dois coelhos com uma cajadada só: atendendo às necessidades dos fãs da cantora e da própria emissora que teria um produto comericial valioso em mãos.
Em 1997, Covas quis criar uma fonte de renda para a Cultura com a criação de uma taxa simbólica a ser cobrada na conta de luz. Houve uma gritaria de certos segmentos da sociedade que não estavam a fim de colaborar e a idéia foi deixada de lado. Eu pagaria sem problemas, afinal tenho um carinho enorme por essa emissora que fez parte da minha formação. As mesmas pessoas que se posicionaram contra a taxa, até onde sei, não apareceram com nenhuma sugestão de se criar uma fonte de renda alternativa para a Cultura. Reclamaram bastante na época, mas aposto que não esbravejam hoje quando pagam (e caro) para assistir confortávelmente aos canais de tv por assinatura e pelo acesso a Internet. Talvez não se deram conta de que a Cultura é a única alternativa de qualidade a um discutível processo de popularização das emissoras de tv aberta, que produz restultados como as pegadinhas patrocinadas por João Kleber e cia. ou então o sensacionalismo barato dos programas policiais do final de tarde.
As entidades e ONGs que se preocupam com a situação atual de certas atrações da tv em termos de conteúdo deveriam se dedicar a tentar salvar a Cultura para evitar que programas bacanas saiam do ar e que profissionais de talento sejam colocados na rua. Mais do que nunca, precisamos da TV Cultura.


 
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