sexta-feira, fevereiro 21, 2003

Comecei a escrever em blogs porque achava que eu tinha uma produção não-publicada que valia a pena mostrar. Há algum tempo que já não acho mais isso. Se não está publicado, tem um motivo pra isso, relacionado à qualidade do que é escrito. Não estava prestando nenhum serviço, não estava escrevendo matérias, nem falando da minha vida, que também não tem muito de interessante. Então pra que servia?

Cecília Gianetti fala a Alexandre Matias, do Trabalho Sujo, sobre o fim de seu blog, o Notas Gonzo.
Porém, o trecho que eu classificaria de mais perturbador desse depoimento é esse aqui:

E tem o lado pessoal nessa história também: ninguém valoriza blog e eu quero valorizar meu passe. (...) Eu quero valorizar meu passe porque eu sei que sou publicável, sou palatável pra um tipo de leitor que nunca ouviu falar de blog. Vou continuar escrevendo, quem quiser publicar me procura.

Apesar de lamentar a decisão, não tiro a razão de Cecília quando fala em "valorizar o passe". Escrever em blog hoje é sinônimo de passatempo, egotrip, narcisismo, falta do que fazer, cocação de saco ou qualter outro adjetivo pejorativo pertinente a essa situação. Tem o lado bacana que é fazer amigos virtuais, poder compartilhar com as outras pessoas certas experiências ou aquilo que se pensa sobre determinadas coisas e/ou situações, mas a angústia sobre a validade de uma proposta como essa sempre insiste em prevalecer. Vamos ver no que dá.

Não é segredo para ninguém que sou um apaixonado pelo rádio e ponto final. Tudo começou quando a minha mãe comprou um rádio-relógio e colocava para despertar na Rádio Bandeirantes AM. Por muitos anos, ela me arrumava para que eu fosse a escola ouvindo o "Pulo do Gato", jornalistico que está até hoje no ar (cuja marca sonora era um miado). Quando eu voltava para casa, sempre encontrava minha avó fazendo o almoço e ouvindo o programa do Hélio Ribeiro (da mesma emissora). Com essa série de estímulos, é claro que o rádio iria fazer parte de minha vida também. Até tentei passar para o outro lado do balcão, como se diz por aí, na Rádio Onze, mas essa é uma outra história.
Fiz essa introdução porquê depois de muitos anos, pude realizar um sonho de infância: estive nos estúdios da Rádio Bandeirantes para acompanhar o Na Geral, programa que fez muito sucesso na Brasil 2000 FM nos últimos anos. Como ninguém deve ser tão assim viciado em rádio como eu, explico a estrutura do programa. É um debate esportivo, com a participação de ouvintes. A diferença é que seus participantes assumem a paixão clubistica. O apresentador Lélio Teixeira é santista, o Zé Paulo da Glória é corinthiano. Faltam na mesa um palmeirense e um são-paulino para equilibrar um pouco as coisas, mas o programa é sucesso mesmo assim. Há ainda espaço para o humor, com as imitações de Beto Hora, que cria vários personagens e faz uma das melhores imitações de Cid Moreira que eu já ouvi. Os ouvintes podem participar pelo telefone. Alguns são sorteados para assistir o programa nos estúdios, após se inscreverem pela internet. Eu fui um deles e estive lá ontem.
Primeiro que eu fiquei meio no cagaço de chegar atrasado. A produção marcou de estar lá as 18h15. O trânsito de São Paulo é um lixo. Andar de ônibus pelo bairro de Pinheiros requer muita, mas muita paciência. Cheguei lá em cima da hora e os outros ouvintes selecionados estavam esperando na recepção para minha sorte. Nossa entrada foi autorizada em poucos instantes e fizemos um pequeno tour lá pelo edifício Radiantes, mas não sem antes encontrar com o Otávio Mesquita no estacionamento e falando ao celular.
No saguão, ficam os estúidos da Band News e da Band Sports, canais que são distribuidos pelas operadoras de tv a cabo. Dá para acompanhar toda a movimentação porque eles separaram tudo apenas com vidros. Depois, subimos um lance de escadas e atravessamos um andar onde fica a área adminstrativa. Mais outro lance de escadas e fomos parar nos estúdios do jornalismo da tv. É muito grande lá. Até tentei ver o Cabrini em ação (era o horário do Brasil Urgente), mas não deu. Após enfrentarmos mais alguns degraus, chegamos ao complexo de rádio. O AM e o FM ficam no mesmo local. Ficamos aguardando autorizarem nossa entrada no estúdio, o que não demorou muito.
O programa já estava no ar quando entramos e cada um de nós se acomodou numas cadeiras. Essa edição do Na Geral teve uma duração menor, pois a Bandeirantes iria trasmitir a partida do Santos, válida pela Libertadores que iria começar as 19h30. Ficou algo um tanto corrido, mas em pouco tempo, foi percetível que a alma do programa é mesmo o Beto Hora, cuidando da parte de humor. O Lélio funciona como um timoneiro, ele conduz a estrutura toda, atende os ouvintes pelo telefone e lê os mails, enquanto o Zé Paulo, além de defender o Corinthians, é responsável pelos testemunhais.
O programa fluiu bem tranquilo. Houve até espaço para um gracejo. Fora do ar, o Zé Paulo combinou conosco que aplaudissemos a repórter responsável pelo boletim de trânsito assim que ela entrasse no estúdio. No meio do intervalo, foi devidamente homeageada com as palmas. Pouco depois das 19h15, o Na Geral terminou. Após as despedidas, os integrantes foram apertar a mão de cada um dos que estavam no estúdio assistindo a apresentação. Ganhamos até uma lembrancinha, um chaveirinho com a logomarca da emissora. Nos pediram desculpas pela brevidade do programa e convidaram para que voltassemos lá novamente. Na saída, voltamos pelos mesmos lugares onde haviamos passado antes e ainda deu para ver lá nos estúdios da Band Sports o Sylvio Luiz apresentando seu talk show, ao lado da jornalista Barbara Gancia. Mesmo estando no ar, ele acenou para nós. E cada um seguiu seu rumo depois de um final de tarde muito agradável.

 
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