sábado, julho 12, 2003

Outro dia eu estava conversando com um camarada na Internet e ele me perguntou o que eu achava do jornalismo gozno praticado por algumas pessoas do sul. De bate pronti respondi que o primeiro jornalista gonzo do país foi Goulart de Andrade. Sim, aquele mesmo do Comando da Madrugada, programa de reportagens vice-líder de audiência no horário dos sábados à noite, na Bandeirantes.
Goulart não se satizfaz apenas em ser o elo de ligação entre o fato e seu público. Por diversas vezes, ele partipa ativamente como um agenteprovocador. Prova disso é uma matéria de quase 20 anos sobre os travestis que faziam ponto no bairro da Vila Buarque, em São Paulo. Após mostrar como vários deles tomavam injeções de silicone, ele decidiu colocar vestido, peruca e sato alto e foi para a rua junto com eles, se transformando em "colega de trabalho" por algumas horas. Será que nossos aprendizes de gonzo-jornalistas teriam a mesma coragem de vestir essa "pele do lobo"?
Esse lance com os travestis é apenas um exemplo. Goulart muitas vezes foi protagonista de suas próprias reportagens. Recuando um pouco mais no tempo, ele estava preparando um Globo Repórter sobre doenças do coração. Durante uma sessão de entrevistas com o Dr. Eurycles Zerbini, uma das autoridades brasileiras em assuntos cardio-vasculares na época, o médico pediu para examinar o jornalista. Não lembro do diagnóstico, mas a recomendação era a da que Goulart fosse operado o mais brevemente possível. Ele topou, mas com uma condição. Que se deixasse filmar todo o processo.
Condições aceitas, lá foi nosso herói para mesa de cirurgia. Durante o processo, acontece um imprevisto: uma parada cardíaca. E a câmera não parou de filmar. Goulart sobreviveu e todas essas imagens fizeram parte do programa.
Talvez por conta da idade, Goulart de Andrade não é mais tão aventureiro como antes, mas deixou um legado importantíssimo para o jornalismo gozno. Tomara que aqueles que prestam cultam a esse estilo aqui no Brasil reconheçam a sua importância.

 
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