sábado, fevereiro 26, 2005

A primeira vez em que soube da existência de Hunter S. Thompson foi através de uma edição da finada revista General. O ano deveria ser 1993 ou 1994, não tenho certeza. Sei que a matéria de capa trazia uma entrevista com Jorge Ben Jor, que tinha ressucitado para as paradas de sucesso ao gravar "W/Brasil". Sei também que não tenho mais essa revista. Lembro de que o texto era assinado pelo Álvaro Pereira Jr, explicava o que seria esse tal de jornalismo gonzo e contava casos pitorescos de sua vida, como o dia em que ele foi preso no Brasil de uma forma estúpida. Ele estava praticando tiro ao alvo em local proíbido e chamaram a polícia. Na delegacia, ele deu uma verdadeira sabonetada no delegado de plantão e quase ia se safar dessa. Porém, ele cometeu a besteira de colocar o pé na mesa e daí várias balas que ele carregava no bolso cairam no chão.

Outro episódio descrito por Álvaro ocorreu numa ocasião em que Thompson estava cobrindo a America's Cup, uma das competições de vela mais tradicionais do país. Desta vez, ele não estava sozinho e trazia consigo o ilutrador Ralph Steadman. Thompson convidou o artista gráfico a tomar uma de suas anfetaminas. A experiência não deu certo para Steadman que simplesmente pirou.

A leitura desse artigo de Álvaro sobre HST (a letra S é a abreviação para o sobrenome Stockton) foi para mim uma grande descoberta. A mesma sensação que tive ao ler numa revista Imprensa, em 1988, um perfil de Gay Talese e uma tradução de "Como Não Entrevistar Frank Sinatra", que está no livro "Fama e Anonimanto".

O tempo passou e verifico que HST tem muitos admiradores no Brasil e o estilo que ele impôs serviu como fonte de inspíração para muita gente. E a Internet se transforou num um veículo ideal para a divulgação de textos escritos à moda gonzo. Uma das expoentes do gonzo tupiniquim é a jornalista Cecília Gianetti, que mantém ativo o blog http://escreveescreve.blogger.com.br.

Dois dos livros de Hunter Thompson acabaram lançados no Brasil, ao apagar das luzes de 2004: "Hell's Angels" e "A Grande Caçada aos Tubarões" e que certamante serão bastante procurados nas nossas livrarias depois da notícia de sua morte, tal como vem acontendo nos Estados Unidos.

HST é mais um caso em que a sua personalidade é muito mais interessante que a obra deixada. Embora o resultado de seu trabalho seja irregular, ele representa um senso de liberdade, sonho de qualquer jornalista. Quem personificou isso num dado momento da história do jornalismo brasileiro foi Paulo Francis em seus últimos anos de vida, em Nova York.

Francis foi a principal influência de uma geração de jornalistas formada nos anos 80. Não deixa de ser curioso notar que hoje quem faz a cabeça de uma certa moçada nesta década seja Hunter Thompson. Deve ser porque ele, antes de tudo era um repórter e vivia intensamente para escrever depois. O contrário de Francis, que deixou de ser repórter para virar um cronista dos tempos, como bem definiu Caio Túlio Costa. Mas o aprofundamento da comparação destas duas siglas, PF e HST, pode ser melhor explorado por outras pessoas.

 
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