sábado, maio 24, 2003

Quero fazer um agradecimento público a Marcelo Costa, Fabio Carbone e Marcel Nadale que gentilmente cederam depoimentos para a matéria que eu fiz sobre e-zines para o Observatório da Imprensa. As declarações deram o molho necessário ao artigo e creio que foram decisivas para a repercussão que ele teve.
No entanto, quero reparar uma falha. Na hora da edição, acabou sendo deixada de lado a palavra do Alexandre Sigrist, do 3am. Eu vou publicar aqui até para que todos saibam um pouco mais sobre um dos e-zines caçulas da net. O esquema foi assim: fiz duas perguntas e deixei que cada um falasse a vontade.

Qual é o conceito do 3am?

Essa é boa, hein?
O 3am, que indica um horário do dia - da madrugada, pra ser mais exato -, pretende falar sobre coisas culturais. Coisas ou produtos? O que seria algo cultural? Escultura, por exemplo, é arte, mas você nunca vai encontrar uma única linha sobre esse tema em 3am.
Aliás, o termo "conceitual", na minha modesta opinião, é extremamente limitante. Seguir um conceito implica em excluir o que esteja fora deste, e isso pode se tornar muito chato no desenrolar das coisas.
A minha idéia pro 3am, vamos lá, é de um site em que poucas pessoas - não pretendo concorrer no Ibest, por exemplo - possam escrever ou ler artigos que enfoquem o lado filosófico de alguma coisa.
Cabecismo? Não! Muito pelo contrário. Mas eu me canso um pouco de ler sobre o mesmo lançamento da semana na Ilustrada, na coluna do Lúcio e EM TODOS OS E-ZINES.
No 3am, o texto até pode ser sobre algum hype, desde que o enfoque seja original.
Eu penso nos insights como algo benemérito, não deletério, então como é possível ter um insight por minuto? O 3am não remunera seus redatores - eu inclusive tenho o ônus de pagar o domínio e a hospedagem - de modo que não teria como justificar milhões de insights.
O 3am também aposta no colunismo, coisa da qual os e-zines atuais abusam. Mas eu acho isso benéfico. Opiniões, quantas mais nós tivermos, melhor.


-Os e-zines e as netpublicações estão desempenhando o mesmo papel que a chamada Imprensa Alternativa na década de 70?

Não, eu não acredito. Hoje em dia, as e-publicações, isso inclui e-zines, portais culturais, sites de revistas, jornais, etc, querem mostrar que são mais rápidos do que os outros. Na década de 70, a repressão fazia com que os redatores fossem mais inspirados, já que precisavam burlar a censura na
mesdida que buscavam as parcas referências culturais. Imagina, hoje em dia você consegue achar uma revista importada com um CD encartado numa banca próxima, dependendo da sua sorte de morar em um lugar legal. Naquela época, era preciso garimpar as coisas. Por outro lado, aquela época era mais, digamos, romântica. Os artistas pareciam ter mais atitude e eram sem dúvida mais sinceros. Depois da década do cinismo absoluto, anos 90, estamos nos anos 2000, que tem alguma
identidade, só não sabemos ainda qual. Talvez a identidade dos 2000 seja exatamente a ausência dela, vai saber.
Outra diferença, já que citei os redatores. Nos 70's, a tipo de pessoa que adentrava redações ou afins era ou o intelectual extremo (radical) ou o porra-louca sem conserto. Havia muitos malditos no meio, o que dava um ar cult a isso. Hoje em dia, garotos bem-nascidos metidos a cult é que se
interessam pela arte, muitas vezes imitando apenas a pose dos colegas setentistas, esquecendo do conhecimento enciclopédico que um Sérgio Augusto, Paulo Francis ou Ivan Lessa esbanjavam.
Nos 70's, ao que me parece, já que eu era muito novo na época, as pessoas lutavam contra algo, existia um inimigo a ser eliminado. Hoje em dia, nós mesmos é que somos eliminados, seja pela violência urbana, exclusão social, ignorância cibernética, etc.

Recebi a seguinte dica. A música "Amanheceu", gravada por Jorge Vercillo guarda muitas semelhanças com "Canção do Novo Mundo", composta por Beto Guedes e Ronaldo Bastos e gravada por Milton Nascimento. Segundo minha fonte, Vercillo teria mudado apenas o andamento e a letra. O leitor que tire as suas conclusões.

 
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