Fausto Silva estreou como apresentador de televisão em 1984. Até então, ele vinha tocando uma carreira bem sucedida como repórter esportivo de rádio e apresentador de um programa na antiga Rádio Excelsior (hoje CBN) chamado Balancê, que misturava o noticiário futebolístico com variedades, idéia de Osmar Santos. A atração se tornou tão popular, que acabou ganhando uma versão de auditório, com a participação de platéia e a introdução de números musicais ao vivo. O jornalista Goulart de Andrade (um dos gênios da tv ainda em atividade) foi realizar uma reportagem sobre o programa comandado por Faustão (já naquela época ele era conhecido assim) e teve um estalo: O Balancê era, na verdade, um programa de televisão feito no rádio. Nascia assim o Perdidos na Noite, que começou como um quadro no 25/a Hora, programa de Goulart na TV Gazeta. Não demorou muito e o Perdidos foi ganhando vida própria e se transferindo para a TV Record.
O Perdidos na Noite inovou em termos de linguagem. Era a antítese de tudo o que se fazia na televisão, mas se acorando numa fórmula simples: um apresentador desbocado (Fausto Silva), uma dupla de humoristas-imitadores (Tatá e Escova), um sonoplasta esperto que colocava sempre a trilha sonora no momento certo (Johnny Black) e uma produtora que acabou virando atração do programa (Lucimara Parisi). Não dá para esquecer a participação do publico, que levava faixas e cartazes e acabava por interferir no programa. Tudo isso dava um ar de informalidade, descontração e uma certa anarquia, até O Perdidos ia na contra-mão do tão bem falado Padrão Globo de Qualidade, imposto na admintração Boni, no qual tudo tinha de ser certinho e bem feitinho.
Tudo ia bem, até que de repente, vem a surpresa. Em 1988, Faustão assina contrato com a Globo para comandar uma atração dominical. Isso deixou muita gente surpresa, pois a existência do Perdidos era uma crítica formal ao modo como eram conduzidas as atrações da emissora que na época estava sediada no Jardim Botânico, Rio de Janeiro. Para alguns, era uma espécie de traição. Não dava para imaginar que uma pessoa se deixasse cooptar pelo mesmo sistema que era vítima de suas ácidas críticas.
Pode parecer um exagero, mas depois que estreou na Globo, Faustão nunca mais foi o mesmo. Em seu lugar apareceu um apresentador que demonstra estar insatisfeito com as atrações que apresenta. Se na época de Perdidos, ele tinha presença de espírito suficiente para tirar de letra qualquer situação embaraçosa, Silva hoje prefere brigar com a produção no ar.
O publico sentiu uma certa saturação no discurso de Fausto Silva e, em 1997, decidiu prestigiar outro programa de auditório dominical, o Domingo Legal, apresentado por Gugu. Foram quase cinco anos de derrotas sucessivas no Ibope até que a situação mudou no ano passado. Alavancando pelo futebol, o Domingão do Faustão voltou a ser líder de audiência. Porém, isso não serviu para afastar os problemas. O inicidente envolvendo o cantor Lulu Santos é prova disso. Ele não é o primeiro e nem será o último artista a reclamar do tratamento recebido ao participar do programa. Lulu fez o que achava certo, escreveu uma carta aberta e expôs em publico a situação constrangedora da qual foi vítima. Fausto respondeu em seu programa do último domingo. Porém, não o fez de forma elegante. Preferiu reclamar do modo como Lulu levou a situação e disse que o assunto não deveria ter sido tratado em público. Uma argumentação estranha para quem no início de carreira fazia questão de mostrar os bastidores de seu programa em público.
sábado, julho 05, 2003
Postado por Rodney Brocanelli às 3:13 AM 0 comentários
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