quinta-feira, setembro 25, 2003

A coluna dessa semana de José Paulo Lanyi no site Comunique-se traz um assunto importante, mas não muito abordado: o critério utilizado para a publicação de cartas dos leitores. Lanyi usou como base uma nota publicada no boletim informativo da Secretaria do Governo Municipal do Município de São Paulo. Um único leitor é o campeão de cartas publicadas em jornais: 70 só nesse ano de 2003. Em todas elas, um único alvo: a gestão da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy. Na coluna, Lanyi informa que se trata do médico David Neto, que já teve várias incursões na política. Foi candidato a verador pelo PL, em 1996, e a deputado pelo PTB nos anos de 1998 e 2002.
A área de comunicação do Governo do Estado de S. Paulo também tem trabalho com dois leitores, cujo sobrenome é o mesmo: Ana e Luís Claudio Hofner. Existe a desconfiança de que são a mesma pessoa. Entre os dias 21 e 28 de agosto, uma carta com o mesmo texto foi publicada em cinco jornais diferentes. Ana Hofner assumiu a autoria em duas ocasões e Luís Claudio nas outras três.
Acontecimentos como esses deixaram as assessorias das duas administrações com a pulga atrás da orelha. Reclamam da facilidade com que esse tipo de leitor consegue publicar suas missivas, enquanto há uma dificuldade maior em publicar as réplicas.
As seçoes de cartas dos jornais devem tomar os devidos cuidados para que casos como esses não despertem suspeitas sobre a origem de críticas as gestões de Marta Suplicy e Geraldo Alckmin.
Esse texto de José Paulo Lanyi me motivou a contar uma experiência que eu observei como integrande da Rádio Onze com o Painel do Leitor, da Folha de S. Paulo. No ano de 1996, o jornal publicou uma reportagem no caderno Cotidiano a respeito da possível interferência que as rádios piratas poderiam causar no sistema de comunicação dos aeroportos de São Paulo. Assinado pelo jornalista Rogério Schlegel, o texto cometia o deslize de não ouvir o outro lado. O pessoal que nessa época tocava a Rádio Onze decididiu que teria de escrever uma carta para mostrar seu ponto de vista e apontar as possíveis falhas da matéria. Passaram-se alguns dias após o envio, e nada. Algumas semanas depois, também nada. Nenhuma linha publicada e nem mesmo um contato por parte do jornal. Decidimos então fazer um outro caminho: envar novamente a carta, mas desta vez ao Ombudsman do jornal e com uma cópia para Otavio Frias Filho, diretor de redação. Só depois dessa medida, aconteceu a publicação. Para se ter uma idéia, a reportagem foi publicada no dia 21 de julho, um domingo. A carta da Rádio Onze saiu no dia 18 de setembro, quase dois meses depois. A missiva não sensibilizou a editora do Painel do Leitor, na época a jornalista Rosana Vasconcellos. Foi necessária a intervenção de outras instâncias do jornal para sua publicação. Depois desse episódio, mudamos de estratégia. As nossas cartas eram enviadas diretamente a Otavio Frias Filho, que depois solicitava a sua publicação na seção. Um exemplo foi a carta publicada no dia 12 de abril de 1999 comentando uma reportagem publicada no caderno Mundo sobre as dificuldades enfrentadas pelas rádios piratas no Texas. Um de seus trechos trazia a seguinte pergunta: "por que as rádios piratas texanas são mais importantes que as brasileiras?" Era um questionamento pertinente, pois a Folha não dedicava espaço a toda problemática vivida pelas rádios piratas por aqui. Esse silênicio só acabou a partir do momento em que Daniel Castro assumiu a coluna de rádio na Ilustrada, mas essa é uma outra históiria. O que eu quero é realmente testemunhar sobre as dificuldades que algumas pessoas e/ou entidades têm para publicar suas idéias nas seções de cartas.

 
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