quinta-feira, dezembro 26, 2002

Ainda na esteria das boas notícias, outra delas é a volta do Trabalho Sujo, desta vez na Internet. Para quem não conhece, era uma seção dominical sobre música que ocupava duas páginas do jornal campineiro Diário do Povo. Pilotada pelo jornalista Alexandre Matias, um dos méritos do TS era o de colocar lado-a-lado artistas (e lançamentos) tanto do mainstream como do underground, sem qualquer tipo de distinção. Era como se estivesse querendo dizer ao leitor algo do tipo: "as opções estão aí; te vira!", naquilo que hoje está muito em voga, a tal mensagem subliminar. Outro diferencial eram os textos de Matias. Conscientemente ou não, ele teve a manha de trazer para o jornalismo musical a linguagem ensaística vista nos cadernos culturais mais, digamos, "cabeça", como o antigo Folhetim (do final dos anos 80) e do atual Mais!, ambos da Folha de S. Paulo, e do Idéias, do Jornal do Brasil, para citar alguns exemplos. Talvez a idéia fosse pegar bandas pop do porte de um Duran Duran e elevá-las à categoria de arte, assim como as obras dos grandes mestres da pintura e da literatura resenhadas nos respectivos cadernos. Ao fazer isso, Matias assume um risco do ponto de vista jornalistico: seus textos podem tanto trazer abordagens bacanas e interessantes ou então serem completamente entediantes. Porém, o que torna valorosos os escritos de Matias é o fato de se romper com os padrões vigentes da crítica musical brasileira e assumir riscos, coisa que muitos de seus pares não topam fazer por n motivos que merecem uma análise à parte.
Ao retomar o Trabalho Sujo, Alexandre Matias parece estar querendo reviver seu melhor momento como jornalista depois de uma passagem tumultuada como editor da revista Play, recém-extinta pela Editora Conrad. Tomara que em breve ele possa levar de volta ao jornalsimo impresso a seção que fez a cabeça de uma moçada que verdadeiramente gosta de música, não se submetendo aos caprichos do mercado.
Para conhecer um pouco mais da filosofia e da história do Trabalho Sujo, leia aqui essa entrevista que eu fiz com o Matias, em 1999, para seção de entrevistas da página da Rádio Onze.

Boa notícia nesse período de festas: a revista Frente não acabou.

 
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