sexta-feira, setembro 09, 2005

Já perdi a conta, mas essa deve ser a quarta ou quinta entrevista que eu faço com Cadão Volpato. Sei que ela irá dar mais munição ao pessoal que gosta de pegar no meu pé pelo fato de sempre escrever sobre o Fellini ou sobre coisas relacionadas aos seus integrantes. Mas que culpa tenho se o que eles fazem acaba virando notícia? Desta vez, Cadão ganha espaço em dobro por lançar ao mesmo tempo um álbum, que marca a sua estréia solo, depois de anos trabalhando em grupo, e mais um livro de contos.

O CD se chama Tudo o Que Eu Quero Dizer Tem Que Ser no Ouvido (Outros Discos) e não deixa de ser uma surpresa. Primeiro, pelo fato de Cadão trabalhar sozinho, desde a composição até a execução das canções. Depois, porque não se esperava nada mais dele em termos musicais depois de decretar que “a música acabou”, logo após a apresentação do Fellini no Tim Festival de 2003.

E o livro é Questionário, que se junta a Ronda Noturna e Dezembro de um Verão Maravilhoso, ambos da mesma editora (Iluminuras). São pequenos contos, originados a partir de perguntas do tipo “Quão velho é seu amante?”, “Já dormiu num automóvel?”, “Gosta de black music?”, que são respondidas por personagens através de monólogos.

Será um passatempo divertido procurar relações entre os dois novos trabalhos de Cadão. No disco, Cadão conta [ou melhor, reconta] histórias mais ou menos conhecidas, envolvendo pessoas públicas, como a fotógrafa Astrid Kirshner, o humorista Jacques Tati e o pintor Rene Magritte. Já no livro, alguns contos têm algo de autobiográficos, trazendo a marca registrada, a característica principal de seu trabalho como contista [e até em algumas letras do Fellini], que é o caráter inconclusivo dos textos, abrindo espaço para que o leitor dê um sentido a tudo o que está sendo dito.

O papo aconteceu na sede da Trip Editora, em um prédio discreto do bairro de Pinheiros (SP). Lá, Cadão trabalha como editor da revista da Natura, conhecida empresa de cosméticos. Alías, é esse tipo de publicação, conhecida no mercado editorial como revista customizada, que garante a sobrevivência financeira da empresa.

Ao chegar na recepção no dia marcado para a entrevista, uma simpática moça tenta me explicar onde posso localizar Cadão. “Você vai através de toda a redação da Trip e a sala dele fica bem em frente ao banheiro”, diz. Sua descrição faz parecer o local muito maior do que é na realidade. Assim que o elevador chega no segundo andar e avanço uns poucos metros, consigo avistar Cadão. Na verdade, ele não fica numa sala propriamente dita, mas numa mesinha bem no meio do salão, que, a bem da verdade, é de porte médio.

Depois dos cumprimentos e uma brincadeira a respeito do tempo que se passou entre nosso último encontro, em 1996, e o de agora [três filhos – por parte dele – e muitos fios de cabelos caídos de ambos os dois], Cadão me diz que só tinha um exemplar de seu livro, mas não do CD. Disse que já o tinha escutado e ele quis saber minha opinião. Respondi que gostei, mas que faltava algo mais na sonoridade A entrevista já tinha começado antes do gravador ser ligado.


A íntegra da entrevista você confere no Bacana. Clique aqui.

 
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