sexta-feira, fevereiro 28, 2003

No Domingo
Quando o almoço acabar
lá pelas 3
e sorrindo
o seu velho girar
sobre os pés
caindo
deixa o sol rancar
como um rei

deixa o país inteiro
apagar

Quando, às 5
A coruja voar pelo céu
e ao vivo
o seu time tomar dois
ou três
caindo
deixa a noite
reinar de uma vez

deixa o país inteiro
apagar
deixa o país inteiro


Esse é mais um samba maluco da rapaziada do Fellini, como anunciou certa vez Osmar Santos em seu Balancê. "Samba das Luzes" está no disco "Amor Louco", de 1990 que só foi reeditado no formato CD dez anos depois. Em 1999, fiz um artigo para o extinto e-zine Buxixo sobre esse álbum. Como eu já tinha perdido as esperanças de um relançamento, usei um título um tanto desalentador: "O disco perdido do Fellini". Eis aqui alguns de seus trechos:

Há duas edições usei este espaço para falar do lançamento de “Eurosambas 1992-1998”, álbum de estréia do The Gilbertos, o novo projeto musical de Thomas Pappon. Falei de passagem da antiga banda de Thomas, o Fellini, uma das mais importantes bandas da cena independente brasileira dos anos 80. Não é segredo para ninguem que as duas bandas tem muito em comum. Uma é praticamente a continuidade da outra. E o próprio Thomas em suas entrevistas tem reiterado a conexão entre elas. O jornal “O Estado de S. Paulo”, ao publicar a crítica de “Eurosambas”, abriu um texto à parte apenas para rememorar o passado do Fellini. Sem exagero, pode-se dizer que a reboque do The Gilbertos está nascendo uma nova onda da “fellinimania”. Muita gente tem procurado nas lojas especializadas as reedições em CD dos antigos álbuns do Fellini.
(...)
Por um capricho do destino os novos fãs do Fellini não poderão ter acesso a discografia completa do grupo. Apenas os três primeiros álbuns tiveram reedição no formato CD. São eles: “O Adeus de Fellini” (1985), “Fellini só Vive Duas Vezes” (1986) e Três Lugares Diferentes (1987), todos pela Baratos Afins, uma tradicional loja de discos em São Paulo, que virou gravadora. Há um disco, cujo relançamento ainda está sendo aguardado: “Amor Louco” (1990). É o que podemos chamar de “o disco perdido do Fellini”.
(...)
Um pouco de história: “Amor Louco” foi lançado originariamente em LP pela Wop Bop, outra loja especializada em discos que também resolveu ter seu próprio selo. O projeto desse álbum chegou a ser oferecido a Luis Carlos Calanca, da Baratos Afins, mas foi recusado. Terminava assim um casamento que rendeu três grandes discos (ver item acima). Como a Wop Bop Discos começava a dar seus primeiros passos, um acerto entre a banda e Rene Ferri, seu dono, não foi difícil.
Alguns problemas atrasaram a finalização de “Amor Louco”. O produtor R.H. Jackson teve de viajar e as gravações ficaram paradas por alguns meses e o orçamento de produção acabou estourando. Resultado: o LP não foi lançado com a devida divulgação, ainda que tenham saido algumas resenhas nos grandes jornais (Folha e Estado) e na revista Showbizz. Apenas um show de lançamento foi realizado à época, em São Paulo, no finado Espaço Retrô. Era o final de um ciclo na carreira do Fellini. Depois, Thomas Pappon resolveu se mudar para a Europa e a banda encerrou suas atividades. Em 1995, Luis Calanca resolve reeditar os três primeiros discos do Fellini em CD. Mas nada de “Amor Louco”.
Em 1997, numa entrevista a Rádio Onze, Rene Ferri explicou que tem interesse em relançar esse álbum. Ele se dispõe a liberar as matrizes que estão em seu poder se alguma gravadora se interessar naquilo que ele chama de “parceiria”. Um exemplo disso foi a Cri Du Chat, responsavel pelas novas edições em CDs dos LPs da cantora May East e do conjunto Violeta de Outono, após um acordo com Ferri.
Seria legal que essa lacuna fosse preenchida. O Fellini está em negociações para lançar um quinto álbum e “Amor Louco” permanece esquecido, talvez por uma falta de visão dos homens de negócios das gravadoras. Felizes aqueles que na época compraram a bolacha. Hoje, ela virou um item raro de colecionador. No mercado negro, uma cópia não sai por menos de R$ 50,00.

(...)
Musicalemte, “Amor Louco”é um típico disco do Fellini. Todos os temas recorrentes tratados pela poesia de Cadão Volpato estão lá. Relacionamentos amorosos comparecem em “Chico Buarque Song” e na faixa que cede seu nome ao LP: “Amor Louco”. Uma certa politização pode ser notada em “Cittá Piu Bella”. Observações sobre a passagem do tempo são a marca registrada de “Clepsidra”. Há ainda um flerte com a dance music, “Love Till The Morning” e dois sambas “Você é Música” e "Samba das Ilusões". A única diferença é que tudo foi gravado em 16 canais e com qualidade digital, talvez as melhores condições já encontradas pela banda em sua história.
O destaque desse disco sem dúvida é “Chico Buarque Song”. Tudo nela funciona perfeitamente desse o arranjo até a letra em inglês. É bem verdade que nela há um pequenissimo escorregão. Em um trecho da letra em inglês Cadão Volpato canta “Do you still hear Chico Buarque at night”. O certo seria a palavra listen no lugar de hear, mas não é isso que vai tirar o brilho dessa canção.







 
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