quarta-feira, abril 30, 2008

Vida de frila

Eu tenho um dentista que é gente fina e que me parece ser um bom profissional.

Mas as vezes ele me dá cano.

Por duas vezes, eu cheguei no consultório na hora marcada e dei com a cara na porta. Ele é daqueles que não têm secretária.

Em outra ocasião, houve um certo desencontro.

O tiozinho da portaria me disse que ele não estava. Fui obrigado a esperar na calçada por quase meia-hora. De repente, ele sai do elevador e ainda me pergunta por que eu ão tinha subido.

Hoje, voltei lá, depois de resolvidos alguns problemas de convênio.

Chego meia-hora antes. Mais uma vez, ele não estava.

Tomo o elevador, desço e dou de cara com ele no saguão do prédio, esperando algum elevador para subir.

Acho que dessa vez, o tratamento começa. Segunda-feira, volto lá

*

Hoje, enquanto eu esperava meu dentista, lembrei de um caso que aconteceu comigo há alguns anos.

Um jornalista, editor de uma publicação que estava prestes a ser lançada, manda um mail me pedindo um texto.

Eu estava em Goiânia passando férias.

Após algumas trocas de mensagens, mandei o texto.

Em resposta, ele agradece, disse que o mesmo iria entrar na edição zero e me diz algo como "seja bem-vindo à família".

De volta à São Paulo, faço novo contato com o fulano. Ele pede para que eu vá até seu apartamento para conversarmos. A redação ainda não estava montada. Minha idéia era vender algumas pautas, resenhas, etc.

Combinamos um dia e horário.

Chegando eu lá, falo com o porteiro. Por seu intermédio, descubro que o sujeito não está em casa.

Ligo em seu celular, ele atende. Diz que teve uma reunião de emergência e tal. Diz também que eu poderia ligar mais tarde.

Fiz o que ele pediu, mas, segundo o cidadão em questão, a tal reunião iria se prolongar.

Em comum acordo, deixamos o encontro para outra hora.

Alguns dias depois, eu mando novo e-mail na tentativa de marcar novo encontro.

Ele responde afirmativamente. Novamente, ele pede para que vá até seu apartamento.

No dia e hora combinados, decubro na portaria que o camarada não está. De novo.

Não consegui acha-lo no celular. Mais tarde eu escrevo relatando o que ocorreu. Nunca tive resposta.

A vida segue e os dias passam. Um belo dia, recebo um mail desse camarada com a seguinte pergunta: "você sumiu?"

Claro que eu tive vontade de responder de uma maneira mal-criada, mas não o fiz.

Aproveitei para agendar uma visita na redação. Nessa altura, a publicação já contava com um local próprio.

Por incrível que pareça, deu tudo certo. Ele me disse para estar lá numa determinada hora. Fiz como me foi pedido. Ao ser recebido, ele me diz: "você chegou bem na hora em que vamos descer para almoçar".

O "vamos" se explica: além dele, a redação contava com mais duas ou três pessoas.

Foi uma situação um tanto constrangedora, pois não estava preparado para almoçar. Fui com eles até a padaria da esquina e fiquei como espectador. Pelo menos, deu para conversar um pouco.

Ele me mostra o texto que eu mandei antes na edição número zero, que foi usada como mostruário nas visitas a agências de propaganda.

Não me reconheci na edição daquilo que eu redigi. Mas tudo bem, jornalismo é assim mesmo. Pelo menos, deram o devido crédito. Meu nome, estava lá, bonitinho.

Deixo um disquete com o figura. Nele tem um arquivo word com algumas sugestões de pauta. E vou embora.

Passam mais alguns dias, e resolvo cobrar dele uma resposta. Na vida de um frila, essa é a pior parte, mas não há outra saída.

Como resposta, ele tem a seguinte idéia: "passa lá em casa e a gente conversa".

Para encurtar a história, informo que ele me deu o cano de novo.

Daí reosolvi mandar o mail mal-criado, reclamando dos encontros mal-sucedidos. Ele reclamou que eu estava fazendo pressão, e a coisa ficou por isso mesmo.

Desisti de voltar a procura-lo, porque vi que dar murro em ponta de faca, de fato, não dá certo.

Meses depois, tomo conhecimento da notícia de que o nome desse jornalista estava envolvido em casos de picaretagem jornalística que até hoje não foram explicados.

São eles: entrevistas inventadas e um factóide publicado em um jornal de alta respeitabilidade sobre uma lista de bandas top (Strokes, White Stripes, Radiohead, Foo Fighters, Hives, Wilco, Idlewild, e Vines, entre outros) que estariam negociando com a origanização de um festival aqui no Brasil, em 2003.

Sobre o festival, um blog informou que nada daquilo era verdade.

Nenhuma delas sequer chegou a passar pelo espaço aéreo brasileiro naquela época.

Bom, escrevi demais. Encerro dizendo que nunca mais tive contato com essa pessoa. E não faz falta.

*

Para quem se incomodou com o texto longo sugiro que reclamem com meu dentista.

 
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