sábado, janeiro 03, 2004

Creio que algum dos leitores do Onzenet tem alguma história para contar envolvendo a burocracia dos nossos orgãos públicos. É difícil de entender como em plena era da informática, algumas coisas funcionam de modo arcaíco. A minha primeira experiência começa quando fui até o CDHU dar entrada num processo de revisão prestacional. Tinha sido convocado em outubro para essa finalidade. Estive lá na data marcada por eles, mas eles fizeram uma série de exigências que me obrigaram a voltar em dezembro. Só para se ter uma idéia, é preciso levar contra-cheques dos últimos três meses em que eu estiver trabalhando. O meu problema é que eu estava empregado desde julho, mas por uma empresa terceirzada. O contrato acabou e fui efetivado no lugar onde estou até agora. Mas para o CDHU não vale. Eu tenho de apresentar os tais contra-cheques ou então (pasmem) uma carta da empresa garantindo que eu não vou ser demitido. Só pode ser piada, né? Enfim, voltei lá agora em dezembro último e estava lá com tudo o que eles pediram...ou quase tudo. Faltava a recisão lá da terceirzada. O curioso é que não basta apenas apresentar a baixa da carteira. Tinha que ter a recisão junto. A atendente até insinou que eu poderia ter falsificado uma assinatura. Então, para que serve a carteira profissional? Só pode ser para enfeite. Arrumei o contrato de recisão e finalmente consegui entrar com o processo de revisão. Que eu poderia ter resolvido em outubro, mas demora mais que o necessário devido a série de exigências da estatal. E tem mais. Para eles, não basta ser honesto, temos que provar que somos honestos.
Mas não parou por aí. Lembram da terceirizada? Então, com o contrato de recisão eu fui numa Caixa Econômica Federal (no Paraíso) retirar meu FGTS. Após ficar na fila do caixa descubro que agora para retirar o $$$, tenho de dar entrada antes num pedido na própria Caixa. Ou seja, mais burocracia. Perguntei para a mulher do caixa se isso sempre foi assim, até porque de uma outra vez que tive de fazer isso fui direito ao caixa e peguei o dinheiro sem problemas. Ela respondeu que sim. Discordei, mas isso nem iria resolver meu problema. Tive ainda de marcar um horário para a entrega do tal pedido. Falei com uma mocinha, que foi bem mais simpática ao menos. Ela disse que essa nova prática foi instituida há pouco tempo. Respirei aliviado. Já estava achando que tinha ficado maluco. A infeliz do caixa , para se livrar rápido de mim, respondeu a primeira coisa que lhe veio a cabeça.
Na data marcada, lá estava eu de volta a agência da Caixa. Tirei xerox de CPF, RG, partes da profissional. Quando chegou a minha vez, a surpresa. As antas da terceirzada simplesmente erraram o número da minha profissional no termo recisório. Isso sem falar que eles já haviam mancado ao colocar a data da adimissão que não batia com a que foi incluida na carteira. Resumo da história: não pude retirar um dinheiro que é meu por direito. Não fiz favor algum para ganhar aquele $$$. Trabalhei honestamente. E não posso tê-lo por causa de uma série de burocracias e erros que não são minha culpa. Note que que vivemos numa era na qual a sociedade é informatizada, mas ainda temos que nos submeter a práticas de quarenta anos.
Lembro que um dos ministérios do governo João Figueiredo levava o nome de Desburocratização. O titular da pasta era Hélio Beltrão que chegou a ser cotado como candidato a sucessão presidencial. Minha mãe nutria uma simpatia por ele. Porém, acho que seu trabalho acabou sendo em vão, pois em pleno século XXI ainda convivemos com a burocracia, ao menos nos orgãos públicos, tanto da esfera estadual como da federal. É aquela velha máxima: para que facilitar se é possível complicar?

 
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