sexta-feira, julho 12, 2002

Estou republicando aqui no Onzenet a entrevista que eu fiz com o jornalista Alexandre Petillo para o site Euqueromais. Petillo é editor e um dos idealizadores da revista Zero, que está chegando a sua terceira edição.
O diálogo rolou via mail em fevereiro último. Mandei a ele um questionário que foi prontamente respondido. O correio eletrônio acabou se transformando em um importante aliado dos entrevistadores. Com ele é possível garantir a fidelidade nas declarações, além de ser barato. Se o interlocutor estiver em outro país ou em outra cidade, economiza-se no interurbano. Mas nada substitui uma conversa téte-a-téte.
Eu não acredito que esse papo com o Petillo esteja datado. É uma ótima chance para os leitores da Zero confrontarem o resultado final que está indo para as bancas com as intenções declaradas por ele na entrevista.

1)Como nasceu a idéia da revista?

Sempre tivemos vontade de lançar uma revista de música. Mesmo quando a Bizz ainda existia. Acho que todo mundo que escrevre sobre música, e gasta rios de dinheiro com CDs, revistas e outros meios de consumo pop, tem vontade de fazer um projeto nos seus modos. Por isso, a Zero é a exteriorização de um grupo de amigos jornalistas que têm, em comum, a paixão pela cultura pop e por escrever sobre.
Para falarmos de data, o projeto nasceu no fim de novembro, entramos em contato com os colaboradores em dezembro e o número 0 saiu agora em fevereiro. Tudo feito na camaradagem e com o coração na ponta da chuteira.


2)Qual a linha editorial que a Zero irá seguir?

Apesar de estar sendo vendida como a "nova revista de música do Brasil", a Zero prentende falar sobre tudo que é relativo à cultura pop. Posso dizer que, ela terá cerca de 60% de suas páginas dedicadas à música e o resto à boas histórias.
Não precisa ter alguma coisa a ver com música, nesse número 0, por exemplo, tem uma matéria muito engraçada sobre pessoas que trabalham com cadáveres. Tem também um perfil de uma dupla de quadrinistas que produz uma HQ para os presos do Carandiru.
Além disso, fala do triste destino dos garotinhos perfeitos dos anos 80, como o paquito que virou traveco (um outro virou exorcista), a errática trajetória do Juninho Bill...
Mas um grande diferencial da Zero, em seu projeto editorial, é apostar em grandes reportagens, capazes de esgotar o assunto abordado. Na matéria de capa, por exemplo, falamos da ascensão e queda do RPM, com os membros abrindo o jogo sobre sexo, drogas e rock. Uma matéria retrospectiva, quase definitiva e totalmente pessoal.


3)E o que o leitor poderá encontrar na revista?

Diversão. O leitor que investir R$ 5 na Zero, irá se divertir durante todo o mês. Sempre terão matérias bem humoradas, novidades e reportagens diferentes. Vamos fazer o impossível para fugir da mesmice dos jornais culturais e sites existentes hoje. Atualmente, no Brasil, o jornalismo cultural adotou a cartilha das assessorias de imprensa e criaram o "jornalismo de agenda". Todas as matérias em todos os jornais, falam a mesma coisa, no mesmo dia. Nossa intenção é sempre mostrar o outro lado da história.


4)Esse número zero que já está pronto vai estar nas bancas? Como tem sido a receptividade dessa estréia?

Esse número 0 é exclusivo para a imprensa e anunciantes. No entanto faremos uma festa, em breve, onde esse exemplar será distribuido entre os presentes.
A receptividade tem sido excelente. Quem realmente gosta e se importa com música na mídia brasileira tem nos recebido de braços abertos, dando total apoio. Tem saído matérias e notas sobre a Zero em diversos jornais e sites de todo o País.
A única coisa que me entristece são as, digamos, "tias velhas" do jornalismo cultural, que nos veêm como "a nova geração que vai tomar o seu lugar" e não nos apoiam, simplesmente ignorando o esforço. Estranho, porque vivem reclamando em suas colunas de opinião que não acontece nada, que ninguém faz nada no Brasil. Quando alguém faz, ignoram. Mas ok, eles estão em extinção e estamos conseguindo usar o vudu em nosso favor.


5)Vocês já têm uma idéia do esquema de distribuição? A Zero poderá ser encontrada em todo o Brasil?

Sim, a revista será distribuída em todo o território nacional.


6)As comparações com a Showbizz serão inevitáveis. No que vocês pretendem se assemelhar e a se diferenciar da antiga publicação?

A Bizz foi a nossa escola. Eu cresci lendo a revista e tenho todos os números dela. Acho que o principal diferencial da Zero com a Bizz será a abertura para outros assuntos, que não música.
Também priorizamos as boas histórias, não importando quem seja o foco. Nesse número 0, por exemplo, tem um entrevistão com o Nahim, um cantor brega dos anos 80 que está processando o Silvio Santos por se achar o legítimo vencedor do "Qual é a Música". Esse é um tipo de assunto que não seria abordado na Bizz. Acho que se for para fazer uma comparação com outros veículos, podemos dizer que a Zero é uma mistura do Notícias Populares com o Melody Maker.


7)O mercado editorial está se agitando tanto com o lançamento da Zero, como o da Play (que já está no seu segundo número) e mais uma outra publicação, da Editora REM, que chega as bancas em março. Haverá espaço para todos, principalmente do ponto de vista publicitário?

Espero que sim. Esse ano prentende aquecer o mercado publicitário. Tem Copa do Mundo, Eleições, a Kaiser vai promover shows durante todo o ano, tem Free Jazz, Rock In Rio no começo de 2003... Acho que tem espaço para todos, porque, mesmo essas revistas serem jovens, cada uma tem um alcance e estilo único.


8)Como você analisa o atual momento da crítica músical no Brasil?

Deprimente. Uma coisa que me chateia muito, como eu disse acima, é essa postura de "jornalismo de agenda". Todo mundo fala da mesma coisa, no mesmo dia e não muda nem o "gancho" da matéria. Seguema as assessorias de imprensa.
Posso afirmar sem medo que o jornalismo cultural está em crise. Não existem repórteres e jornalista que buscam o furo, a novidade, aquilo que ninguém falou. Isso não interessa mais, porque a "indústria do cool" já se instalou. O pensamento é o seguinte: "vou agradar a assessoria, que vai ficar feliz e me dar um monte de presentes e discos". Infelizmente, é assim.
Para piorar, a crítica musical brasileira é formada por dois tipos de profissionais: 1) aqueles que se formaram em faculdades e escolheram o jornalismo cultural como o meio mais fácil de se manter na profissão. Catedráticos, não fogem do pensamento fácil e usual, que lhes foi imposto nas salas de aula e;2) aqueles que se acham os donos da verdade, os "sabe-tudo" que mais leram sobre do que realmente ouviram. São caras como esses que saem por aí dizendo que Strokes é genial e que o Bob Dylan era apenas um "cara de sorte". Ambos tipos de profissionais não escrevem com tesão.
Pare e pense: há quanto tempo você não lê uma matéria realmente boa e inesquecível na imprensa brasileira?


9)Você tem um e-zine sobre música, o Scream&Yell, o melhor do gênero na atualidade. Fale um pouco mais dele.

O Scream & Yell é a grande paixão minha e do Marcelo Costa, o outro editor - que também é editor na Zero. Começou como um fanzine de papel, feito em Taubaté, no interior de SP. Foi criado apenas para servir de escape para a nossa vontade de escrever sobre aquilo que gostamos. Começou a chamar a atenção e foi crescendo. Acabamos sendo convidados para trabalhar com jornalismo em SP e entramos de vez na profissão.
Em SP, com o pouco tempo para fazer o zine impresso, partimos para a internet, que é uma mídia mais instantânea. O Scream & Yell estreou na internet em dezembro de 2000. Hoje, pouco mais de um ano, tem uma média de 5 mil acessos diários, o que é ótimo para um site totalmente independente e sem qualquer ajuda financeira. Contamos com mais de 50 colaboradores diferentes, que nos mandam matérias sobre música, cinema, literatura e comportamento.
Também é o nosso canto, onde eu e o Marcelo utilizamos para poder falar do que quisermos, descer a lenha em quem quisermos, porque afinal, temos toda a liberdade do mundo ali e não temos rabo preso com ninguém.
Não devemos nada para qualquer publicação impressa, temos inúmeras matérias próprias, quentes e exclusivas. Toda semana,por exemplo, entram resenhas das principais estréias no cinema, assim como todos os outros lugares.
O conteúdo de matérias e textos existente no site é gigantesco. Não conheço ninguém que tenha lido todas as matérias que estão lá.
Bem, que não conhece, favor entrar no www.screamyell.hpg.com.br (nota do blogueiro: os site mudou de endereço: http//www.screamyell.com.br, sem o tal do hpg) . E podem mandar sugestões e colaborações


10)Quem quiser entrar em contato com a redação da revista Zero o que deve fazer?

Pode mandar um e-mail para revistazero@aol.com, que será prontamente atendido.


11) Fique a vontade para as suas considerações finais.

Pessoal, comprem a Zero, apoiem a cultura pop brasileira e vamos todos fazer com que o entretenimento de qualidade também vingue no Brasil.

Nenhum comentário:

 
www.e-referrer.com