segunda-feira, fevereiro 03, 2003

Uma polêmica tem agitado o movimento de rádios livres brasileiro. E ela se inicia numa expressão utilizada por Laura Mattos, da Folha de S. Paulo, numa de suas mais recentes colunas sobre rádio. O uso do termo "rádios do mal" não foi bem digerido por cetros setores, justamente aqueles mais à esquerda. Na verdade, foi uma tentativa da jornalista de mostrar que dentro do movimento existem os picaretas, aqueles que montam suas emissoras com duvidosas intenções.
Para quem não sabe, as rádios livres no Brasil começaram como uma diversão. Estudantes de eletrônica montavam transmissões caseiros a partir de esquemas que vinham de revistas estrangeiras. Com o passar dos anos, a coisa ganhou um caráter mais ideológico, principalmente com a entrada de estudantes que colocavam as suas emissoras como uma forma de protesto contra a situação sócio-econômica do país e também contra a política de concessões dos governos da época.
O caráter dessas emissoras era efêmero. As transmissões aconteciam quase sempre à noite, uma forma de driblar a fiscalização e de fugir de eventuais processos.
O divisor de águas do movimento de rádios livres no Brasil foi a absolvição do jornalista Léo Tomáz, que teve os equipamentos da sua Rádio Reversão apreendidos, isso em 1994. Foi aberto um processo contra ele com base na Lei de Telecomunicações. A sentença do juiz Casem Mazolum abriu um precentente histórico em processos desse tipo e isso fez com que o medo de se colocar uma rádio clandestina no ar diminuisse. Os riscos de apreensão e de um processo continuavam, mas as chances de sair livre cresceram.
O que se viu, a partir de então foi uma verdadeira explosão. O número de rádios piratas aumentou em proporções nunca vistas na história da radiodifusão mundial. Porém, como em tudo na vida, nem sempre quantidade signifca qualidade. Muitas estações bacanas foram colocadas no ar, assim como rádios de gente oportunista também.
Quem acompanha o trabalho de Laura Mattos com a devida atenção e sem aquele viés ideológico que caracteriza a esquerda radical percebe que ela tem procurado fazer essa diferenciação. É uma forma de mostrar ao público que existe o joio e o trigo e, como tal, devem devidamente ser separados. Muitos defensores das rádios livres, no entanto, preferem varrer para baixo do tapete todos esses problemas Querem pintar um quadro cor-de-rosa, quando isso não condiz com a realidade. O que se vê por aí são emissoras com um perfil cada vez mais comercial, reproduzindo o modelo vigente das emissoras oficiais e sufocando propostas interessantes. Afinal, o espéctro eletromagnético não comporta a todos.
O pior de tudo é o discurso desses setores de esquerda. Para eles, a grande mídia combate as rádios piratas, etc, quando na verdade não são todos os orgãos que fazem isso. A Folha procura ter uma cobertura equilibrada, postura que não é adotada pelo Estadão, por exemplo, até por causa das emissoras de rádio que pertencem ao grupo (e também pela própria linha do jornal, mais conservadora, etc), mas ninguém consegue enxergar isso (e vá se tentar explicar isso para algum deles...) A ideologia acaba distorcendo a visão dos fatos, infelizmente. Isso é que gera polêmicas como a gerada com Laura Mattos. É energia dispendida para o alvo errado. Na verdade, o que deveria ser combatido era a proliferação de gente oportunista dentro do movimento de rádios livres.

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