quinta-feira, maio 22, 2003

Bem, esta quarta feira foi agitada no jornalismo cultural. Primeiramente foi a Folha de S. Paulo que trouxe um importante depoimento de André Midani, ex-chefão de gravadora, dando nomes aos bois e falando tudo sobre o jabaculê. Como eu escrevi há alguns posts abaixo, a imprensa já vem dedicando um bom espaço ao tema. É claro que a iniciativa do governo de se criminalizar essa prática de pagar para tocar tem colaborado para que o assunto volte à tona. Não tenho como saber como está a cobertura nos outros diários, mas ao meu ver a Folha é que está se destacando mais, pelo arrojo de procurar trazer aqulio que nas redações convencinou se chamar de diferencial, como o depoimento de Midani. Vamos ver se o jornal não passa a sofrer qualquer tipo de represália. Naquele artigo para o zine Quex escrito por mim (ver posts abaixo), informei que os jornais e revistas dependem muito das gravadoras na cobertura da área musical.
A entrevista de André Midani, um ex-executivo da Warner Music que esteve no olho do furacão por muitos anos, serviu para confirmar tudo aquilo que se suspeita sobre as relações promiscuas das emissoras de rádio e a indústria fonográfica. Midani citou a Rádio Jovem Pan FM como uma das principais beneficiárias do esquema "pague pra tocar" A única coisa que nem é tão nova assim foram os casos de jabaculê promovidos pela equipe dos programas de TV apresentados pelo Chacrinha. A própria Folha já havia tratado do assunto, em 1987, numa série de reportagens assinada por Mário Cesar Carvalho. A dupla Laura Mattos e Pedro Alexandre Sanches, autores da entrevista, poderia ter investido na busca de casos mais atuais, mas creio que a apuração não pára por aí.
E o outro responsável pela super-quarta do jornalismo cultural é o Lúcio Ribeiro. Valeu a a pena esperar por mais uma semana até que sua coluna na Folha On Line fosse publicada. Dois de seus tópicos abordados deram o que falar. Um deles foi sobre o Garagem, com direito a um texto de Álvaro Pereira Jr, um de seus apresentadores, que falou sem rodeios sobre as dificuldades de se negociar com as emissoras de rádio paulistanas. Seu relato só fez reforçar um tese que eu defendi certa vez no blog Rádio Base: lamentavelmente, por tudo o que representa, não há espaço no dial para um programa como o que Álvaro e seus parceiros (André Barcinski e Paulo Cesar Martin) comandavam na Rádio Brasil 2000, de onde sairam no final do ano passado. Tomara que eu esteja enganado.
E o mesmo Lúcio dedica um espaço generoso de sua coluna para desmascarar algumas picaretagens jornalisticas na área cultural. Ele se baseou no caso de Jayson Blair, um ex-repórter do New York Times, cujas reportagens se mostraram fraudulentas, com fatos e situações inventadas. Segundo Lúcio, nós temos um Blair aqui no Brasil que fez uma "entrevista" com Julian Casablancas, vocalista da banda The Strokes por e-mail. O detalhe é que ele não fala com jornalistas. Fabrizio Moretti, o baterista brasieliro da banda, foi curto e grosso: "O Julian disse que não falou com ninguém do Brasil. E que não abre um computador há uns seis meses". Sinistríssimo. Esse e outros casos, como o do Curitiba Pop Festival, só ajudam a arranhar a credibilidade do jornalista que cobre a área de artes e espetáculos e merecem explicações urgentes.
Alías, o Lúcio falou de uma história já abordada aqui no Onzenet. A dos plágios assinados pelo jornalista Pepe Escobar. E aproveito para fazer uma correção. Na verdade, foi um texto sobre o David Bowie o pivô da confusão, e não sobre os Beatles, como eu escrevi aqui há algum tempo. Só faltou Lúcio dizer que foi André Singer, atual porta-voz da presidência da República, quem descobriu a farsa toda.
Que quarta, hein?

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