sexta-feira, agosto 27, 2004

Megssa Fernandes: gente que faz

Imagine uma pessoa que canta em diversas bandas independentes, faz zines, organiza festivais e mostras, participa de um vídeo de ficção (aliás, são seus pés), mantém um blog... enfim, alguém que participa de quase todas as manifestações artísticas/midiáticas (chique, não?) que se possa imaginar. Ela existe, sim. Seu nome é Megssa Fernandes.
O trabalho mais conhecido de Megssa foi como vocalista da banda The Fish Lips. Iriam dar o que falar, caso não tivessem resolvido terminar (aqui os motivos são devidamente explicados). Nesse meio tempo, ela se envolveu em vários outros projetos, entre eles a Mostra de Cultura Independente, realizada no ano 2000, em São Paulo, com grande sucesso de público e mídia. Mesmo com o fim do Fish Lips, Megssa não ficou sem ter onde cantar. Além de suas duas bandas paralelas, hoje ela empresta sua voz ao supergrupo Magic Crayon, reunindo gente bacana que já participou de outras bandas indie com algum prestígio na cena, casos do Moonrise e do Comespace. Irriquieta, nossa menina multimídia super-poderosa não fica só nisso. Ainda em outubro, pretende lançar uma nova edição de seu zine, o Popadelic, escrito todo à mão. E dentro em breve, teremos o "debut" de seus lindos pés como estrelas principais de um vídeo a ser lançado pelo povo do zine Judith Blair. Isso tudo sem se esquecer de que, em casa, Megssa ainda é uma boa cozinheira (tem alimentado uma família toda com seus quitutes) e ainda se dedica aos estudos preparatórios para enfrentar o fantasma do Vestibular (ufa!).
Depois de todas essas informações e de acompanhar esse papo, é impossível escapar do clichê: Megssa Fernandes é gente que faz. Leia na seqüência a íntegra da entrevista, realizada pelo e-mail. (Rodney Brocanelli)


Ruídos - Você foi vocalista do The Fish Lips por muito tempo. Era uma banda promissora da cena independente, com muitos elogios de zineiros e de parte da imprensa especializada. Infelizmente, vocês decidiram colocar um ponto final nessa trajetória. O que houve?

Megssa Fernnandes - Na verdade não decidimos. Decidiram. Por mim, estaria tocando com a banda até hoje. Foi um momento muito delicado porém, quando todo mundo começava a ficar distante, um pouco cansado depois de tanto tempo tocando junto, e cada um acabou rumando por um caminho diferente. Acho que o que pesou, foi o fato de não termos mais nada em comum. Aliás, se tivemos algum dia algo em comum, talvez fosse apenas alguns amigos. Personalidades, gostos e objetivos completamente diferentes. Isso tudo foi mais forte do que a música e daí foi o fim. Já passei muito tempo triste por conta disso, até hoje não me conformo muito. Mas agora já prefiro achar que há males que vem pra bem.

Ruídos - Como você foi parar no Magic Crayon?

Megssa - Essa é uma história... Eu estava dando um tempo em Porto Alegre ano passado (2001) quando em um dos shows que fui conferir, tinha o Magic Crayon tocando. Aproveitei a bebedeira dos meninos e praticamente me convidei pra participar da banda, dizendo que só voltava pra São Paulo se tivesse uma banda pra cantar, hehe. Eles (César e Gilberto) acabaram me chamando e eu aceitei na hora. Se bem que até o primeiro ensaio rolar demorou ainda uns bons meses. Quando voltei, o Paulo (guitarra) já tinha entrado na banda também e o Barbosa tinha voltado a tocar bateria.

Ruídos - Você concorda que o MC é um supergrupo indie, uma vez que reúne pessoas talentosas que já tocaram em outras bandas bacanas, caso do Zanin (ex-Moonrise) e do Gilberto Custódio Jr. (ex-Comespace)? Ou é apenas mais um rótulo dado por aí?

Megssa Fernanndes - Acho que na verdade acontece uma mistura de integrantes que acaba nos livrando de ser indie (no sentido sonoro literal da coisa). Veja bem, o som do moonrise, comespace, fish lips e transistors (banda do Barbosa), eram muito diferentes um do outro. Aliás, até o público de cada banda era diferente. Daí todo mundo se reuniu e deu no que deu. Eu adoro a banda, mesmo. O que acho que faz uma diferença são as experiências de cada um. Como não é a primeira banda de ninguém ali, o negócio perde aquela coisa de ‘achismos’, ingenuidade e ‘sonhar alto’, sabe? Mas daí a ser indie, acho que é mais uma coisa do povo ficar rotulando mesmo pra poder se identificar ou não com o que fazemos.

Ruídos - Além do Magic Crayon, você faz parte de outras bandas. São o The Luos e o 3 Guitarras, até onde eu sei (será que tem mais?). Fale um pouco mais sobre eles.

Megssa Fernandes - O "Três Guitarras" era mais um projeto; uma forma que tive de continuar tocando com o rodrigs (ex-guitarrista do fish lips) e tocar com outras pessoas que queriam experimentar coisas novas. É um projeto que pode voltar a qualquer momento. Talvez não com os mesmos integrantes, mas sempre experimental. Agora, o the luos é eterno. Na verdade existia antes mesmo de fish lips. Depois de contar com inúmeras tentativas de outros integrantes, acabou virando apenas o Paulo (magic crayon e post) e eu, sendo que dessa formação já nasceu a segunda fitinha, em praticamente um ano de ‘banda’ (a primeira foi gravada com o paulo e o pedro –que toca guitarra no ponche). É um som simples, sem muitos detalhes, violão, voz, guitarra. Lo-fi ao extremo.Um som cheio de influências folk. Como sempre digo, em poucas palavras: meus desabafos. Eu canto e toco violão e o paulo a guitarra cheia de slides, etc. O the luos existe há 8 anos, mas nunca divulguei muito. Achava que era algo muito pessoal. Hoje em dia, a vontade de encontrar pessoas que se identifiquem com isso me fez começar a gravar.

Ruídos - Quando você estava no Fish Lips rolava uma certa ciumeira por parte de pessoas que estavam em outras bandas. Sei que a Alê Briganti e Eliane (ex-Pin Ups) andaram criando confusões contigo em alguns shows. Você confirma isso? Que tipo de problemas elas te causavam?

Megssa Fernandes - Mal entendidos sempre acontecem. Ainda mais quando tem um monte de gente envolvida com esse negócio de bandas e cenas e zines e isso e aquilo. O que aconteceu foi que por conta de falta de comunicação e mal entendidos que pessoas faziam questão de promover, acabou-se gerando polêmica e discussões. Realmente não me causaram problemas já que na época e até hoje em dia, tudo o que aconteceu não fez a mínima diferença pra mim. Nem fazemos parte da mesma realidade, acho. Sabe, Rodney, nunca gostei de brigas e sempre fiquei quieta no meu canto. A única coisa que serviu tanta discussão naquela época, foi pra me fazer mudar de postura quanto ao que acontece em volta. Hoje em dia, se tenho um problema com alguém, vou e resolvo na hora. Sabe que o mais triste de toda essa história, foi no final, perceber que pessoas como elas tinham mais caráter do que pessoas que por exemplo, tocam ou estão com você no dia-a-dia.

Ruídos - E essa história de que os seus pés serão protagonistas de um filme? Explique mais um pouco a respeito disso.

Megssa Fernandes - Pois é, acabei aceitando o convite que o pessoal do zine Judith Blair fez pra participar de um projeto deles. Sempre fui muito fã do trabalho desse zine, que aborda a sexualidade de uma forma bem simples e divertida. Daí que estamos ainda filmando as cenas do vídeo "caçando pezinhos" onde eles saem pelas ruas abordando garotas a fim de filmar os seus pés. Fetiche puro. Quem tiver curiosidade pra conhecer todos os outros vídeos ou mesmo pra conseguir o zine, o site é Erro! Indicador não definido. Respeito muito o trabalho deles e está sendo muito divertido participar de forma tão diferente (pelo menos pra mim)!

Ruídos - Em 2000, você foi uma das organizadoras da Mostra de Cultura Independente, que rolou na Funarte, aqui em São Paulo. Apesar do sucesso dessa primeira edição, o evento não teve continuidade. O que aconteceu?

Megssa Fernandes - Burocracia. Não conseguimos um lugar pra abrigar a Mostra. É muito difícil também manter um evento como esse por consecutivos anos sem grana. A primeira aconteceu por muito trabalho e por sorte também. Fazer outra mostra apenas por fazer, sem seguir o padrão de qualidade da primeira, não seria legal. Mas apesar disso, a Debbie e eu organizamos no ano seguinte o Festival de Música no Tendal da Lapa, que foi quase uma mostra, só que menor, mas que não deixou de abrigar bons trabalhos e bandas. Gostaria MUITO de voltar a organizar a II edição de ambos os eventos. Acredito que a Debbie também, mas pra isso teríamos que ter muito tempo disponível e pelo menos um bom lugar pra fazer. Como não ganhamos nenhum dinheiro com esse tipo de evento, além de tempo, teríamos que arrumar patrocínio ou algo assim e essa parte burocrática é que atrasa tudo.

Ruídos - Você retomou o seu zine Popadelic. Fale um pouco mais sobre ele e aproveite para fazer um comercial.

Megssa Fernandes - Ah, o popadelic é um zine tosco. A periodicidade dele é completamente irregular, mas até isso combina com o conteúdo e a estética do trabalho, que é completamente disforme e torto, feito a moda antiga, com colagens e rasuras. Fico tão triste em ver que os zines de papel estão sumindo (sumindo, porque acabar acho que nunca irão). Saber de todo e novo e-zine é legal, mas e a facilidade de levar o seu zine pra cima e pra baixo, de emprestar pra um amigo, tirar xerox, multiplicar os seus pensamentos, alcançar outras cabeças? Falta um pouco disso. As vezes dá impressão que as pessoas começam fazendo zines pra desabafar, divulgar coisas que acreditam, etc. Daí passam uns anos, e elas desistem, como se tudo o que um dia gostaram ou sonharam não tivesse sentido. Bom, mas voltando ao popadelic, ele é simplesmente um zine pessoal, que reune resenhas, textos diversos, que tratam de coisas do meu dia a dia, o que vai desde música, até cultura trash e frustrações por exemplo... "Zine é que nem jeans, tem sempre um que é a sua cara!" , por isso não faço pra agradar ninguém, apenas vou escrevendo e pronto. E pra quem quiser uma cópia, que fique a vontade pra me pedir pelos endereços: Erro! Indicador não definido. ou R. Joaquim Fraga, 53 cep 06060-170 Osasco-SP

Ruídos - Suas considerações finais. Fique à vontade

Megssa Fernandes - Hehe, aqui que eu tenho que agradecer pelo espaço, né? :) Bom, agradeço mesmo, porque é sempre legal poder espalhar um pouquinho esas opiniões por aí. Os endereços acima são pra qualquer um que queria trocar idéias, fiquem a vontade. Queria também acabar dizendo que todo aquele papo de "compre zine, vá a shows, compre demos, pense independente" já virou clichê, mas acredito mesmo nisso. Você não precisa ter uma banda ou um zine, ou mesmo fazer social em shows e festas pra ser independente. Basta pensar diferente, ser curioso, ir atrás de coisas novas que te agradem e valorizar todo o trabalho que dá pra manter de alguma forma, essa rede de manifestos que com muita dificuldade, chega até você *

Essa entrevista foi publicada no e-zine Ruídos, em 2002, acho eu. A informação mais recente que eu tenho da Megssa é a de que ela está morando na Escócia. Leiam seu blog, o Sonora, que traz algumas de suas histórias curiosas naquele país.

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