terça-feira, março 22, 2005

Surge mais um caso de fraude jornalística no Brasil. Desta vez, a picaretagem não ocorreu em nenhum grande veículo de comunicação. O site do Jornal Laboratório, mantido pelo curso de Comunicação Social da IESB, no qual os alunos publicam seus trabalhos, trouxe uma reportagem sobre um caso raro de infecção no cérebro, resultado de uma aplicação de piercing. A "paciente" estaria internada num hospital da rede Unimed

A aluna responsável pelo texto, após a enorme repercussão da história, assumiu posteriormente que todas as informações contidas nela são falsas, desde o caso em si, até os nomes dos médicos. Depois da revelação, a reportagem foi retirada do site. Em nota oficial, a Coordenação do Curso de Comunicação Social fala que estuda a adoção de medidas disciplinares.

O blog Onzenet publica na íntegra a falsa reportagem a seguir. O texto foi obtido numa lista de discussão sobre jornalismo.

Saúde
Piercing na língua causa infecção cerebral em brasiliense
Primeiro caso no Brasil de infecção no cérebro provocado por piercing de língua
é registrado no Distrito Federal
Por Michelle Dias Piloto

O primeiro caso de infecção no cérebro provocada por um piercing de língua foi
registrado no Distrito Federal em 25 de fevereiro. É o primeiro no Brasil e o
segundo no mundo, segundo o neurocirurgião Marcelo Freitas, do Hospital Unimed,
onde está internada a paciente de 23 anos. A equipe médica informou que a
infecção está sob controle, a paciente está consciente e continua em observação,
mas só terá alta na próxima sexta-feira, dia 11. A jovem sentia fortes dores
de cabeça desde que colocou o piercing, há dois anos, segundo sua mãe, Maria do
Carmo de Souza. Um desmaio foi o que a levou ao hospital, onde os médicos
detectaram a infecção. Bactérias típicas da boca chegaram à corrente sanguínea e
alcançaram o cérebro. A paciente teve que retirar o piercing, foi submetida a
cirurgia e ficou em coma induzido por quatro dias. "Foi o primeiro piercing que
minha filha põs, nunca pensei que o adereço pudesse causar um dano tão grande à
saúde", conta Maria do Carmo.
O dermatologista Edil Ramos, da equipe que atende a jovem, lembra que a língua e
os genitais são as piores escolhas de quem quer usar o adereço. O especialista
recebe queixas freqüentes de dentes deslocados pelo contato com a peça e gengivas irritadas. Por serem regiões úmidas e muito vascularizadas, são vulneráveis a infecções. Em sua opinião, o melhor local para colocar o piercing é o lóbulo da orelha.
"Segundo a dentista Lidiane Britto, os problemas mais comuns na língua são a
halitose, a periodontite, dentes quebrados, dificuldade de fala e lesões no
palato por atrito. Mas também existe a possibilidade de transmissão de viroses,
como hepatite e AIDS.
O câncer bucal está relacionado a muitos fatores, como o fumo e o álcool, entre
outros. "Para quem fuma, bebe e usa piercing, as chances de câncer aumentam",
adverte a odontologista.
Apesar de tantos riscos, a adesão ao piercing de língua cresce entre os jovens.
Em São Paulo, uma lei estadual (lei nº 9.828/1997) proíbe a perfuração em
menores de idade mesmo com a autorização dos pais. Em Brasília, não há
regulamentação sobre o assunto. Para a adolescente Larissa Guedes, de 17 anos,
foi a melhor experiência de sua vida. A mãe foi com ela e as duas colocaram
piercing no umbigo. Ao contrário de Larissa, Débora Fontes, de 22 anos, foi
expulsa de casa por colocar cinco piercings.
A psicanalista Caroline Macedo relata que há casos em que adolescentes colocam
as peças para chamar a atenção dos adultos. Outros adeptos vivem um processo de
erotização da dor semelhante ao experimentado pelos sadomasoquistas. "A dor é
grande, mas para eles o prazer da perfuração é quase sexual", diz. Essa teoria
não explica a massificação do uso do piercing que, segundo a psicanalista, faz
parte de um conjunto de tendências estéticas que envolvem a manipulação do corpo
em busca da beleza, como é o caso das lipoaspirações e das próteses de silicone.
(publicado em 04/03/2005)

Nenhum comentário:

 
www.e-referrer.com