Nunca é tarde para se reconhecer certas coisas. Em 1999, eu escrevi para o Buxixo, o e-zine da Megssa, um artigo sobre a banda Los Hermanos (leia aqui). Eles tinham acabado de estourar com o hit Anna Júlia e estavam se transformando nos chatos de plantão devido a repetição exaustiva dessa canção. Ninguém aguentava mais, nem mesmo os próprios integrantes, mas não havia muito a se fazer, apenas aceitar aquilo que a gravadora determinava. Na época, eles tinham feito um show casado aqui em São Paulo com o Ira! e sofreram uma certa rejeição do público presente. A galera começou a gritar "jabá! jabä!". Eu escrevi, entre outras coisas, que Marcelo Camelo e seus amigos estavam perdendo total controle de suas carreiras dentro da banda. No final, arriscava até um diagnóstico: "Ou a banda se reinventa em caráter de urgência ou vão acabar como um novo RPM, como bem observou a coluna Rio Fanzine, do jornal O Globo."
(Aliás, sobre essa falta de controle, vou pegar um trecho de um artigo escrito pelo Bruno Medina, um dos integrantes da banda e que toca teclados. Ele fala sobre aquele projeto de se númerar CDs e Livros: "Nós do Los Hermanos sempre que podíamos abordávamos a necessidade da numeração dos cds nas entrevistas, mas quem somos nós? Nosso poder de barganha e de mobilização dentro da indústria fonográfica ainda é muito pequeno." Reparem quando ele fala sobre poder de barganha. É um reconhecimento do status dos Hermanos na atual conjuntura da indústrica fonográfica.)
O tempo passou e veio a surpresa. Qualquer outro arista teria se acomodado devido ao medo de ser queimado. Isso não aconteceu com Los Hermanos. Eles viraram a mesa e soltaram "Bloco do Eu Sozinho", um álbum de fazer cair o queixo. A Abril Music não gostou muito da idéia. Preferiam uma "Anna Júlia - Parte 2, a revanche", mas cederam depois de muita conversa. É bem verdade que a banda sofreu um certo boicote da gravadora, mas talvez a grande lição que esse episódio mostra é não perder de vista a credibilidade, antes de tudo.
A década ainda não acabou, mas "Todo Carnaval Tem Seu Fim" uma séria candidata a figurar numa lista de melhores deste Ano Zero (a década cujos os dois últimos algarismos dos anos começam com zero). Parece que Camelo andou se inspirando nas letras de Cadão Volpato. "Todo Carnaval..." poderia muito bem figuar em qualquer um dos álbuns do Fellini. É uma letra que diz muito, mas não diz nada, deixando para o ouvinte a preocupação de dar algum sentido para tudo aquilo. É melhor que enfiar algo pronto na goela do público.
O bom da vida é poder rever conceitos, analisar com a distância do tempo o que se disse no passado e sacar se aquilo ainda tem validade ou não. O caso desse texto que eu escrevi sobre a banda Los Hermanos é um grande exemplo disso. Tomara que eles continuem supreendendo a todos e se reinventado cada vez mais. Capacidade, não falta.
segunda-feira, julho 22, 2002
Postado por Rodney Brocanelli às 2:02 PM
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