segunda-feira, janeiro 06, 2003

"Cadê as Rádios Piratas?", pergunta meu amigo Gilberto Custódio Jr. na seção News do zine Esquizofrenia. Essa é uma curiosidade que eu também tenho. São Paulo está infestada por centenas de emissoras clandestinas, mas o perfil de 99,99% delas que está no ar é de dar pena. Algumas delas estão na mão de grupos religiosos, outras na mão de pessoas que querem ganhar um troco fácil vendendo anúncios e espaço de programação, mas sem se importar com a qualidade do conteúdo, copiando o modelo das emissoras de sucesso. Rádios como a Onze são cada vez mais raras.
O dial paulistano está sobrecarregado a cada dia que passa. Um dos motivos é a explosão das rádios clandestinas das quais eu falei. Outro, é o fenômeno das "rádios que andam", revelado pela jornalista Laura Matos, na Folha de S. Paulo. São emissoras cuja concessão pertence a cidades próxmas a de São Paulo, mas que, devido a um tipo de artifício jurídico, acabam vindo operar a partir daqui mesmo, de olho nas verbas do mercado publictário. Um exemplo é a veneranda Kiss FM, dedicada ao "classic rock". Oficialmente, ela é de Arujá, mas sua sede está localizada na Av. Paulista. Quem perde são os arujaenses Eles ficaram sem rádio que atenda aos seus interesses.

quinta-feira, janeiro 02, 2003

Dia de preguiça, resolvi juntar todos os textos que eu escrevi aqui para o Onzenet tratando sobre a Rádio Onze. Quem acompanha o blog sabe que nos seus primeiros dias de vida me dediquei muito a fazer algumas considerações sobre minha passagem por lá. É claro que se trata de uma visão bem particular daquilo que aconteceu entre 1995 e 1998. Uma coisa eu tenho sempre dito: a história da Onze precisa ser contada por mais e mais pessoas que não sejam eu. É uma emissora que tem uma importância enorme no movimento de rádios livres até por ser uma das poucas iniciativas de univeristários.
Os textos estão aqui. Usei o nome de Diário de Bordo para essa complicação. Foi mais porque eu usei a estrutura do blog que qualquer outra coisa. Não esperem nada do tipo: "...hoje eu acordei e fui para a rádio...", mas é aquela velha mistura de fatos, memória e opinião.

quarta-feira, janeiro 01, 2003

Se eu estiver errado que me corrijam, mas acho que nunca um presidente da República esteve tão exposto como Lula durante o trajeto percorrido da Granja do Torto até o Congresso Nacional. Andando num Rolls Royce conversível, ele se transformou num alvo fácil de atiradores de ovos, para dizer o mínimo. Está certo que trata-se de uma festa popular, afinal foi um presidente eleito em eleições diretas, mas alguns cuidados teriam que ser tomados. Um popular chegou a invadir o automóvel que levava Lula e seu vice-presidente para abraça-lo e quase o derrubou. Foi um inicidente sem maiores consquencias, ainda bem, mas que evidenciou o erro de estratégia.

segunda-feira, dezembro 30, 2002

Uma coisa bacana de ser notar é que cada vez mais jornalistas vão aderindo a ferrementa blog. E outra coisa mais bacana ainda de se notar é que mais e mais jornalistas bacanas estão entrando na onda. O caso mais recente é de Alex Antunes, que resolveu mostrar neste dezembro o seu dedo do meio, compilando alguns textos escritos para revistas e zines, além de outros quase inéditos. Um exemplo dessa mistura é "Quem tem medo da MPB? 1969-2002, ou 33 anos entre a magia & o truque", uma das analíses mais sensatas sobre a relação do rock brasileiro pós-1982 com a "tal música popular brasileira". Outro texto imperdível é "Meu Amigo; Joe Strummer", mas sobre ele não vou entregar seu conteúdo. Cada um que trate de ler e entender o porquê. Mas não é só de música que vive o blog de Alex. Há ainda a descoberta de uma nova tribo urbana: os "Fofos".
Alex Antunes participou da primeira equipe de jornalistas que lançou a revista Bizz na segunda metade da década de 80. Além disso, é músico e já escreveu letras clássicas como "Atropelamento e Fuga", gravado originalmente por Akira S. & As Garotas que Erraram, mas que viria a ser um hit com Scowa e a Máfia. Lançou recentemente um romance pela Editora Conrad, chamado "A Estratégia de Lilith". Porém, seu ganha-pão é mesmo o jornalismo.

sexta-feira, dezembro 27, 2002

O fim das transmissões do programa Garagem, que ia ao ar pela Rádio Brasil 2000 FM (SP), talvez tenha sido um dos acontecimentos do ano no meio rádio. Para saber um pouco mais dessa história, o zine Esquizofrenia (representado por este que vos escreve e Gilberto Custódio Jr, seu editor) foi procurar Paulo Cesar Martin, o Paulão. O resultado foi a entrevista que pode ser conferida a seguir: http://www.esquizofreniazine.hpg.ig.com.br/paulao.htm

quinta-feira, dezembro 26, 2002

Ainda na esteria das boas notícias, outra delas é a volta do Trabalho Sujo, desta vez na Internet. Para quem não conhece, era uma seção dominical sobre música que ocupava duas páginas do jornal campineiro Diário do Povo. Pilotada pelo jornalista Alexandre Matias, um dos méritos do TS era o de colocar lado-a-lado artistas (e lançamentos) tanto do mainstream como do underground, sem qualquer tipo de distinção. Era como se estivesse querendo dizer ao leitor algo do tipo: "as opções estão aí; te vira!", naquilo que hoje está muito em voga, a tal mensagem subliminar. Outro diferencial eram os textos de Matias. Conscientemente ou não, ele teve a manha de trazer para o jornalismo musical a linguagem ensaística vista nos cadernos culturais mais, digamos, "cabeça", como o antigo Folhetim (do final dos anos 80) e do atual Mais!, ambos da Folha de S. Paulo, e do Idéias, do Jornal do Brasil, para citar alguns exemplos. Talvez a idéia fosse pegar bandas pop do porte de um Duran Duran e elevá-las à categoria de arte, assim como as obras dos grandes mestres da pintura e da literatura resenhadas nos respectivos cadernos. Ao fazer isso, Matias assume um risco do ponto de vista jornalistico: seus textos podem tanto trazer abordagens bacanas e interessantes ou então serem completamente entediantes. Porém, o que torna valorosos os escritos de Matias é o fato de se romper com os padrões vigentes da crítica musical brasileira e assumir riscos, coisa que muitos de seus pares não topam fazer por n motivos que merecem uma análise à parte.
Ao retomar o Trabalho Sujo, Alexandre Matias parece estar querendo reviver seu melhor momento como jornalista depois de uma passagem tumultuada como editor da revista Play, recém-extinta pela Editora Conrad. Tomara que em breve ele possa levar de volta ao jornalsimo impresso a seção que fez a cabeça de uma moçada que verdadeiramente gosta de música, não se submetendo aos caprichos do mercado.
Para conhecer um pouco mais da filosofia e da história do Trabalho Sujo, leia aqui essa entrevista que eu fiz com o Matias, em 1999, para seção de entrevistas da página da Rádio Onze.

Boa notícia nesse período de festas: a revista Frente não acabou.

sábado, dezembro 21, 2002

If the wild bird could speak
She'd tell of places you had been
She's been in my dreams
And she knows all the ways of the wind

Polly, come home again
Spread your wings to the wind
I felt much of the pain
As it begins

Dreams cover much time
Still they leave blind
The will to begin
I searched for you there
And now look for you from within

Polly, come home again
Spread your wings to the wind
I felt much of the pain
As it begins


A letra de música para este final de semana é Polly, mas não confundam com aquela do Nirvana. Quem a compôs foi Gene Clark, ex-integrante do The Byrds. Aliás, com a lendária banda, ele gravou os dois primeiros álbuns: Mr. Tambourine Man e Turn! Turn! Turn! Essa música é de sua carreira-solo e pode ser encontrada no álbum "Through The Morning, Through The Night ". Dizem até que Clark é melhor que Bob Dylan como letrista (sendo apontado como o Grande Poeta da América), mas não vou entrar nesse mérito. Quero usar Polly como gancho para falar de outra coisa. Se não fosse por Thomas Pappon eu não teria conhecido essa canção. Ele a regravou brilhantemente no CD "Eurosambas", de seu projeto musical chamado The Gilbertos. Thomas, conscientemente ou não, prestou um belo serviço a muita gente, pegando uma música de 1969, escrita por um compositor bacana, e trazendo para os dias de hoje. Essa seria a função primordial dos "covers", mas esse espírito se perdeu, principalmente na MPB. Um exemplo vivo é o de Gal Costa, que regravou em seu mais recente CD uma música dos Titãs lançada no ano passado: "Epitáfio" (aquela mesma do "devia ter amado mais.."). Das duas, uma: é preguiça de procurar ou então é aquela velha síndrome de apostar naquilo que já é conhecido, para não "assutar" o público.

quinta-feira, dezembro 19, 2002

Alô você que me disse não estar acessando minha estação na Usina do Som. Descobri o que houve. Para ouvir as estações pessoais e desfrutar de outros serviços do site, as pessoas devem se cadastrar antes. Fazendo isso, você conseguirá ouvir a minha seleção pessoal, chamada de rádio Onzenet.

O Folhateen e a Folha On Line querem saber quais os melhores CDs nacionais e internacionais de 2002. O voto pode ser feito no próprio site, e o resultado sai no dia 13 de janeiro, no suplemento da Folha de S. Paulo. Entre os lançamentos nacionais, eu votei em "Amanhã é Tarde", do Fellini. Ainda não escolhi o melhor disco internacional. Se duvidar, acho que nem voto, mas aceito sugestões.

Quer conhecer o blog mais fru-fru da Internet? Então, vá ao Demi's Blog

segunda-feira, dezembro 16, 2002

Atenção para os blogs novos incluidos na lista aí do lado esquerdo da tela: A Ostra e o Vento, da Ana Lira, colaboradora do site Rabisco, bem literário, por sinal, e o Page, da brasiliense Lívia Caldas.

E por falar em revistas que param de circular, atenção para o comunicado abaixo:

Caros Players:
A Conrad parou de publicar a revista Play.
Dá dó mas não tinha outro jeito.
A Play era um investimento de longo prazo. Nunca deu dinheiro. Mas 2002 foi um ano em que tudo ficou no curto prazo. 2003 promete o mesmo.
E pra fechar a tampa o custo industrial de fazer uma revista (papel + impressão) subiu 36% esse ano (até agora). Ou seja, daqui para a frente o buraco ia virar abismo.
Sinto muito.
Bom, mas se a Play fosse indispensável, os leitores topariam pagar R$ 10.00 por ela. E se muitos leitores fizessem isso íamos conseguir vender 30 anúncios a R$ 10.000 cada, certo?
É. Sim. Taí a Playboy que custa R$ 9.90, tá cheia de anúncio caro e vende como se fosse a rabeta da Kelly Key.
Mas o ponto é que a Play sempre foi idiossincrática. Não era clone de nada, nem gringo nem brazuco. Era inesperada, esquisita, cheia de besteiras, de erros estúpidos, mas de acertos surpreendentes e abordagens únicas. Era num certo sentido um webzine feito revista.
O que faz todo sentido. Porque cada vez mais o lugar do risco, da ousadia, da idiossincrasia é a internet. O mundo das revistas no Brasil está cada vez mais como o mundo dos iogurtes, dos refrigerantes, das commodities. Ninguém espera que um iogurte seja ousado. Espera que ele seja exatamente igual ao que você comeu a semana passada, mesma consistência, embalagem, quantidade de calorias.
A Conrad, inevitavelmente, vai continuar tentando fazer algumas coisas de maneira mais arriscada e atravessada. Não tudo. Algumas coisas.
Pois agora a Play vai ser um webzine mesmo. Acho que melhor que antes. Estréia ainda em dezembro. Temos vários planos para o site Play para o ano que vem. Estamos inclusive pensando em produtos especiais Play. Aliás tenho certeza que um dia vamos acabar lançando uma outra revista chamada Play, o título é muito bom...
Saludos amigos

André


O André que assina esse comunicado é o Forastieri, proprietário da Editora Conrad.
Menos mal que o site vai continuar existindo.
Taí uma grande lição para quem está no mercado de revistas. O público leitor da Play foi tratado com diginidade, sendo informado dos problemas que causaram a extinção do título.

O lance é o seguinte: a Frente acabou depois de apenas três edições. A informação básica é essa. Detalhes dos motivos que levaram a essa decisão de acabar com a publicação ainda não são conhecidos. Pode até ser que esse fim não seja definitvo. Talvez ela volte por uma outra editora, talvez não. Vale lembrar que a Frente era resultado de uma parceiria entre as editoras REM, de propriedade dos jornalistas Ricardo Alexandre, Emerson Gasperin e Marcelo Ferla, e a Ágata, que publica a DJ World. Se a revista foi lançada com toda pompa, circunstância e barulho no primeiro semestre do ano, nenhum comunicado foi distribuido desta vez para explicar o que houve de verdade. Para piorar, a home page oficial está desatualizada. Os leitores merecem uma satisfação, principalmente aqueles que tentaram achar a Frente nas bancas de outras partes do país e ficaram a ver navios (sabia mais lendo aqui).


quinta-feira, dezembro 12, 2002

As circunstâncias da morte de Mary Hansen, do Stereolab, me fizeram lembrar de outra personalidade da música pop que também perdeu a vida andando de bicicleta: Nico, que cantou algumas músicas no primeiro álbum do Velvet Underground. Aconteceu em 1988, porém, eu pelo menos nunca soube realmente o que houve de fato. Na época, li em alguns lugares que ela teria morrido após perder o equilibrio, cair e bater a cabeça no chão. Outros jornais publicaram uma versão diferente, a de que ela teve um derrame cerebral enquanto pedalava. A única coisa em comum nas duas histórias é a bicicleta.

Um pouco de música para relaxar é bom, não? Então convido todos a ouvirem a minha estação pessoal na Usina do Som. Procure por Onzenet e você terá uma amostra do tipo de sons que eu gosto. Enquanto eu escrevo esta nota, tá rolando "Asking For It", do Hole. Pena que a história recente de Courtney Love a partir de seu casamento com Kurt Cobain ofusque bastante o trabalho de sua ex-banda. Se a grande maioria se esquecer quem é Courtney e se concentrar apenas no som vai encontrar grandes méritos. O primeiro álbum, "Live Trough This", é simplesmente sensacional, mas injustiçado devido ao que Courtney representa fora da música.
Por falar nela, lembrei de uma entrevista concedida peloKid Vinil à Rádio Onze, isso em 1995. Ele foi visitar nossos estúdios com a intenção de divulgar o CD "Xu-pa-ki", que lançou usando o nome de Verminose (hoje ele voltou a trabalhar com a marca Magazine). Foi uma verdadeira sabatina, vários programadores da emissora participaram fazendo perguntas. Papo vai, papo vem e ele falou um pouco de CL:
"Eu entrevistei certa vez o Jack Endino, que esteve produzindo o disco dos Titas. É um cara supersimples. Eu peguei o compacto do Hole que ele produziu e pedi que falasse um pouco dela. Ele se recusou a falar. Endino acha que ela é responsável por uma série de coisas, é uma mulher complicada como pessoa. Agora artisticamente eu acho legal, embora o Jack Endino tenha dito que todas as músicas dela se parecem com "Smeels Like Teen Spirt", do Nirvana, o que eu discordo. Ela pegou um pouco daquela postura do Kurt Cobain. Se ela se aproveitou de uma série de coisas, o fato de ter se casado com ele, isso eu acho relativo. Qualquer pessoa no lugar dela faria o mesmo. Oportunismo ou não, ela está fazendo um trabalho legal".

terça-feira, dezembro 10, 2002

Ainda sobre a discussão sobre a violência urbana, vale ler o post do blogueiro Nemo Non . E ele está coberto de razão no que diz.

sábado, dezembro 07, 2002

Fui assaltado duas vezes na vida. A primeira foi em 1990. Eu estava na esquina da Al. Barão de Limeira com a Duque de Caxias (aqui em São Paulo) esperando o sinal fechar, isso lá pelas onze da noite. Dois adolescentes bem vestidos, diga-se de passagem, me surpreenderam e anunciaram o assalto. É claro que eles foram direto na minha carteira, mas não deram sorte, pois naquele dia eu estava sem dinheiro. Bem, alguma coisa a dupla tinha que levar, então fiquei sem um guarda-chuva velho e uma jaqueta que tinha acabado de comprar e ainda estava pagando num crediário. No mais, não sofri nenhuma violência físice e ficou apenas o susto.
A segunda vez aconteceu nesse sábado. Eu estava na Praça Princesa Isabel esperando o ônibus que me levaria para casa após mais um dia normal de trabalho. Chovia naquele momento e decidi me proteger ficando embaixo de uma marquise do outro lado da rua, bem próximo. Veio do meu lado um garoto com um carrinho no qual ele vendia picolés com o mesmo intuito. Pouco depois, chega mais uma pessoa. Era um rapaz de bermuda, camiseta regata e com um dos pés de chinelo na mão. Ele perguntou se eu tinha uma tesoura. Respondi que não. Então ele veio com aquela velha história: queria saber se eu tinha cinquenta centavos para dar a ele. Minha resposta foi negativa. O rapaz pediu para ver minha carteira e a partir daí, deu para perceber o que ele realmente queria. O garoto do carrinho de picolés, percebendo o que estava acontecendo, deu no pé. Coube a mim a tarefa de me virar com o cara que primeiro queria uma tesoura e depois cinquenta centavos. Agora já posso chama-lo de marginal. Na sequencia ele colocou a mão no meu bolso querendo a carteira. Esbocei uma pequena reação, pois percebi que ele não estava armado. Tentei impedir que ele levasse o que desejava, mas minha calça acabou rasgando no bolso e facilitou a sua intenção. Houve um esboço de perseguição. Corri o mais que pude, mas sabe quando uma coisa te faz parar? Desisti. Sabe lá Deus o que poderia acontecer se eu conseguisse alcançar o ladrão.
Levei um pequeno prejuízo, é verdade. Fiquei sem meu crachá de acesso da empresa onde trabalho atualmente. Meu cartão-lanche já era também. Quanto aos documentos, nem me preocupo, pois sempre andei com cópias autenticadas deles (alías, recomendo que todos façam o mesmo; nunca se sabe o que pode acontecer). Tinha algum dinheiro e uns passes de ônibus, mas isso não significa muito. O que mais me indgina nesse caso é a omissão das pessoas. No ponto do ônibus, que estava bem próximo de onde tudo aconteceu, tinha um casal. Eles viram o que se passou e nenhum deles ao menos gritou um básico: "pega ladrão". O que dizer então do garoto do carrinho de sorvetes?
Perto de onde fica esse ponto de ônibus tem uma igreja Batista e com alguns seguranças que ficam olhando os veículos dos fiéis que vão assitir aos cultos. Custava alguém ter avisado? Depois de que eu desisti da perseguição, voltei lá para o ponto e esculachei o casal. Desejei de coração que eles nunca fossem assaltados ao esperar o ônibus e agradeci pela omissão. Peguei mais pesado com o vendedor de sorvetes. Na hora da raiva disse que ele era comparsa do sujeito que tinha me roubado, mas creio que não tinha nada a ver com a história. Deveria ser um trabalhdor como eu.
Enfim, é nessas horas que a gente percebe a solidariedade humana (e principalmente, a falta da mesma). Depois do esculacho o casal foi embora. Os vi fazendo uma ligação num orelhão e tomaram o rumo da Av. Rio Branco. Não dirigiram uma palavra a mim, nem mesmo quando dei a bronca neles. Sei lá, que dissessem que eu estava errado, que eu era um zé mané, que eu era um louco ou ao menos para dizer um "isso acontece". Em vez disso, o silêncio. Na primeira vez que eu fui assaltado, há doze anos, aconteceu algo parecido. Voltei para o lugar onde eu trabalhava na ocasião e fui pedir ajuda a um dos seguranças. O infeliz disse que não podia fazer nada. Chamei uma viatura da polícia e rondamos a região para ver se eu achava os meliantes adolescentes, mas sem sucesso, devo ter perdido tempo procurando ajuda no meu local de trabalho. Dessa vez, não fiz nada. Apenas fiquei curtindo a minha indgnação até que o ônibus chegasse. A cobradora e o motorista foram legais e me deixaram entrar sem pagar.
Acho que o problema todo nem é a violência urbana, mas é o fato de que você está sozinho lutando contra ela. Nenhuma viva alma procura te ajudar numa situação de risco, mesmo que numa distância segura. É a lei do cada um por si. É aquela sensação: "ainda bem que não foi comigo". Quando eu era moleque, minha avó me levava para brincar na Praça Princesa Isabel. É triste ver que hoje não se pode esperar um misero ónibus com tranquilidade. Se eu fosse o Afanásio Jazadi começaria aqui com um discurso anti-governo estadual, anti-polícia, mas quem tem um pouco mais de inteligência sabe que essas instituições fazem o que podem e não são apenas elas as responsáveis pela segurança do cidadão. O buraco é muito mais embaixo e ele passa pela educação, pela empregabilidade, etc. O que não pode é esse estado de letargia, com as pessoas se acostumando a assitir assaltos embaixo de seu nariz como se estivessem vendo um filme na televisão. Todos falam em mudança daqui, mudança dali, mas não basta mudar apenas trocar de presidente da República e a mentalidade continuar como esta. Vamos colocar a mão na consciência, pessoal.

Quer uma dica legal de leitura para o seu final de semana (e o começo da outra também)? Já está no ar a minha participação na Coluna Vertebral, do site da Rádio Brasil 2000 FM. Para quem ainda não sabe, são vários colunistas se revezando. Nessa semana, chegou a minha vez e escrevi um texto sobre o uso do rock nos comerciais de televisão. Fiz um pequeno histórico que vai desde os comerciais dos cigarros Hollywood, na década de 80, até o recente comercial da Credicard, que usou como protagonistas a modelo Gisele Bündchen e o ator Rodrigo Santoro e a música "I'm Free", mas baseada naquela cover que o Soup Dragons fez para o original dos Stones. Na verdade, não foi usado o fonograma original (e no texto eu explico isso com mais detalhes). Para quem desejar dar uma olhada, é só clicar no link da Coluna Vertebral que está aqui.

sexta-feira, dezembro 06, 2002

Luiz Inácio Lula da Silva deve divulgar nos próximos dias sua equipe de trabalho para seu mandato como presidente da República. Um nome é mais do que certo: é o do jornalista André Singer, ocupando, ao que tudo indica, o posto de porta-voz. Ele, aliás, já vem desempenhando esse papel desde a campanha eleitoral até esse período antes da posse. Será uma grande surpresa se seu nome for preterido.
Singer é professor de ciências sociais da USP. Foi editor de política e secretário de redação da Folha de S. Paulo. Depois de deixar o jornal, ocupou o posto de diretor de relações internacionais do PT. Dirigiu a revista Superinteressante, na Abril, até voltar para a Folha, como repórter especial. Saiu novamente para trabalhar na campanha de Lula.
Poucos sabem, mas foi André Singer quem revelou ao grande público os plágios praticados por Pepe Escobar em seus textos. No começo da década de 80, ainda na Folha, Pepe publicou com sua assinatura uma série de artigos sobre os Beatles, mas copiando trechos inteiros de parágrafos de matérias que já haviam saido na imprensa européia, sem dar o crédito devido. Singer, um estudioso sobre o trabalho da banda e fã, desconfiou das semelhanças dos textos, descobriu o plágio que tratou de denunciar nas páginas do jornal. A partir de então, se seguiu uma troca de artigos com Pepe Escobar tentando se defender, tarefa na qual não obteve sucesso. Esse incidente, porém, não trouxe maiores prejuízos para a carreira de Escobar, que até hoje frequenta as páginas dos grandes veículos de nossa imprensa, trocando a crítica musical pela política internacional.

 
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